2010-04-26 15:45:00.0
Na semana passada, tive a honra e o grato prazer de assistir a uma dissertação do engenheiro Pedro Fragoso, administrador da empresa SINFIC, SA.
Confesso que para lá de ter ele “dito mal” do meu telemóvel de eleição, o BlackBerry, foi das intervenções que mais prendeu a minha atenção, desde que ando por esta roda de seminários, palestras e similares. De facto, para quem está atento, o mundo hoje regista uma mudança do paradigma. Em todos os aspectos, mas o maior pendor desta mudança do paradigma regista-se ao nível da economia.
Com efeito, a crise financeira mundial forçou a esta mudança. A realidade das finanças mundiais, trouxe a lume a fragilidade dos sistemas financeiros e como uma das consequências, o dinheiro ficou mais caro. Por outras palavras: passou a haver mais dificuldades de se conseguir dinheiro.
Do topo a base…das grandes economias até as economias de subsistência o impacto da crise fezse sentir.
Como até não sou nenhum expert em economia e finanças, não vou dar uma de “Chico Esperto” e pôrme aqui a debicar em prato alheio.
Prefiro falar mesmo da economia doméstica…daquelas contas que todos fazemos, diariamente para que as panelas e o fogão lá de casa não tirem férias prolongadas, as mesmas “aritméticas” que fazemos para apanhar o candongueiro que nos tira do areal para o asfalto (como já um cantor enfatizou em uma kizomba da banda) todos os dias, para que cheguemos menos tarde ao serviço, mesmo com os salários da função pública atrasados sem saber se a culpa é de quem paga ou de quem nos entrega o dinheiro.
Mas não há volta a dar. Estamos mesmo perante uma mudança do paradigma…e sente-se isso na dificuldade cada vez maior de pagar a escola dos canucos porque os colégios e afins tiveram de ajustar os preços ao ritmo da inflação. Não deixa de ser caricato…ajustam os preços ao ritmo da inflação mas eles “dançam” (entenda-se aceleram) mais rápido que a inflação…enquanto a inflação vai a 33 rotações os preços vão a 45 rotações…é um show! Mas essa dança descompassada entre o que recebemos e os preços com os quais temos de conviver, sem “inadeques” que nos acudam, não é exclusividade nossa.
É mesmo uma contra-dança mundial…internacional e como diria o outro, do “mundo e arredores”.
E temos nós de (parafraseando outro engenheiro que gosto muito de ouvir discursar) aguçar a nossa arte e engenho para não sucumbir ou morrer de morte morrida! Os nossos irmãos do Índico, os moçambicanos, acossados pela crise, estão a assistir ao surgimento de muitos médicos com soluções (dizem eles) para quase todos os males.
Uma leitura rápida por qualquer jornal de lá, e encontramos anúncios de “Drs” que tratam de males como: homem sem força a noite, protecção do corpo e da empresa, curar homem que não tem vontade de fazer sexo em casa, diminuir barriga, fazer crescer a parte do homem que é pequena para ficar na medida que a pessoa quiser, dar sorte as pessoas que não têm, tratamento de pessoas que são apertadas pelos espíritos à noite… A lista é longa…e certamente que consumiria o espaço todo que a redacção me reserva. Mas são sinais da crise económica mundial…são indicativos de que o dinheiro para o nosso sustento anda cada vez mais distante e quase invisível.
Todavia, a história atesta que é em momentos de crise que o homem desenvolve a sua capacidade de criar. Logo, ao virar da esquina, dar-nos-emos conta que mudamos mesmo de paradigma!
Alfredo Carima, Colunista Acidental
in O País/Opinião, Online, ed. 76