O conjunto de três artigos publicados na secção Dossier desta newsletter têm como objectivo a introdução aos sistemas biométricos baseados em reconhecimento facial. Ao longo das últimas décadas têm sido propostas diversas técnicas para o reconhecimento computacional de faces humanas. Um dos métodos mais conhecidos de comparação facial (através de eigenfaces) é aqui descrito. Este método baseia-se na projecção das imagens faciais sobre um espaço representado pelas variações mais significativas entre as imagens conhecidas.
Uma das características mais notáveis da visão humana é a capacidade de reconhecer faces. Esta capacidade, desenvolvida durante a infância, está na base das nossas relações sociais e tem desempenhado um papel de grande importância na nossa evolução enquanto espécie. A representação mais antiga da face humana remonta ao neolítico, há cerca de 27 000 anos. Ao longo de toda a nossa história, a face tem sido representada de diversas formas por inúmeros artistas.
A capacidade de reconhecer um indivíduo de forma automática é um conceito relativamente recente. O primeiro sistema semiautomático de reconhecimento facial remonta à década de 60. Esse sistema necessitava que o administrador localizasse as características faciais (CF) nas fotografias utilizadas (incluíam-se olhos, nariz, orelhas e boca) antes do sistema proceder ao cálculo das distâncias entre as CF e comparar as suas dimensões normalizadas com as referenciadas. Em 1988, Kirby e Sirovich mostraram que a codificação exacta de uma face, alinhada e normalizada, podia ser obtida com menos de cem pontos.
Um dos principais factores que distinguem o reconhecimento facial dos outros sistemas biométricos reside no facto desta tecnologia poder ser utilizada para fins de vigilância. A identificação de criminosos procurados, de terroristas suspeitos, ou a localização de crianças desaparecidas, são apenas algumas das aplicações possíveis. As maiores vantagens desta tecnologiaincluem:
Nas últimas décadas foram propostos numerosos métodos de reconhecimento facial. A maioria deles é baseada na análise de perspectivas faciais 2D (Figura 1). Esta abordagem é, no entanto, sensível à pose e às condições de iluminação.
Figura 1. Correspondência facial 2D. Imagem resultante da comparação biométrica facial
realizada no BioAnalyzer Web (BAW), uma solução desenvolvida pela Sinfic.
Uma vez que a forma das faces é independente desses parâmetros (iluminação e pose), o reconhecimento facial 3D começou a ser alvo de interesse por parte dos diversos grupos a trabalhar na área (Figura 2). Já foram propostos algoritmos de reconhecimento facial 3D com níveis de correspondência muito elevados. No entanto, a tecnologia 3D continua a não ser amplamente utilizada em aplicações práticas, devido ao facto de requerer uma maior complexidade computacional, equipamento dispendioso e pré-tratamento de imagens complicado.
Figura 2. Representação do modelo 3D de uma face com as respectivas características faciais assinaladas.
Os pontos vermelhos representam a posição média das respectivas características.
De uma forma geral, todos os métodos desenvolvidos para resolver este problema utilizam uma das seguintes abordagens:
Uma das técnicas mais utilizadas e que pode ser incluída no primeiro tipo de abordagem descrito, designa-se por reconhecimento de padrões através de eigenfaces. Nesta técnica, a face é reconstruída através da sobreposição de um conjunto das designadas eigenfaces e a semelhança entre imagens faciais é determinada com base no coeficiente das eigenfaces relevantes. Esta técnica é descrita com maior detalhe no artigo seguinte com o título "Reconhecimento de padrões através de eigenfaces".
Texto compilado por J. M. Almeida e H. Bento, recursos humanos da Sinfic especializados em biometria.