O conceito de "rapid eLearning", ou desenvolvimento rápido de conteúdos para eLearning, está cada vez mais em voga. Os fabricantes de ferramentas de autor não param de lançar no mercado novos produtos (ou simplesmente colar este chavão a produtos já existentes), que supostamente vão resolver o "trilema" custo-prazo-qualidade. Mas será que é bem assim?
Importa começar por referir que "rapid eLearning" é, desde logo, um argumento de marketing e posicionamento, que está a ser utilizado para caracterizar um novo tipo de ferramentas, cujos destinatários são utilizadores não especialistas em eLearning, para a criação de conteúdos para eLearning. O objectivo é que estas ferramentas possibilitem um desenvolvimento mais rápido, pois do ponto de vista processual, as actividades associadas ao modelo de desenvolvimento são simplificadas - em particular se forem os especialistas na matéria (SME - Subject Matter Experts) a realizar o desenvolvimento. Pelo menos a teoria é esta, e actualmente é bastante popular.
Mas se de facto as ferramentas são mais rápidas, ou permitem um trabalho mais rápido, deveriam muito provavelmente continuar a ser utilizadas por profissionais de desenvolvimento. Na prática, não deixam de ser ferramentas de desenvolvimento. No entanto, o que se passa é que estas ferramentas nem sempre são muito boas, flexíveis, fiáveis ou mesmo baratas. De facto, este tipo de ferramentas acaba por ter limitações, o que implica que muitas vezes acabam por não dar resposta às necessidades. E se assim não é, então provavelmente estamos a falar de novas e mais modernas ferramentas de desenvolvimento.
Assim, e partindo do pressuposto de que as ferramentas não fazem toda a diferença, então o "rapid eLearning" está relacionado com o processo, e com a experiência das pessoas que estão envolvidas no processo. Reduzir (ou simplificar) o modelo de desenvolvimento, é também reduzir a necessidade de experiência e conhecimento das pessoas envolvidas. Se um autor ou especialista (SME) for ele mesmo o responsável pelo processo de desenvolvimento/produção, então supostamente reduzimos a necessidade de especialistas em eLearning, ou de pedagogos, como no caso do desenho instrucional.
Por outro lado, "rapid eLearning" também significa muitas vezes (pelo menos para alguns...), que se reduz a necessidade de conhecimento e experiência associado à tecnologia e às normas, o que significa que será expectável que um SME se passe a preocupar com questões como "o que tenho de fazer para produzir um curso em SCORM 2004, que corra no LMS, reportando o percurso do formando, e respondendo aos pré-requisitos?".
Por fim, e para os mais acérrimos defensores do "rapid eLearning", todo o processo deve ser executado mais rapidamente, não só o desenvolvimento, mas também os testes e o controlo da qualidade, a disponibilização, o acesso ao conteúdo, a manutenção, etc. Tudo bem rápido e, já agora... barato.
Em muitos casos, a essência desta discussão está relacionada com a diferença entre produção "rápida" versus produção profissional de conteúdos. Ou seja, para alguns, a grande questão está relacionada com o compromisso entre qualidade e prazo (sendo que prazo significa nesta vertente também custo).
Mas na verdade, um longo tempo de desenvolvimento não significa necessariamente que o resultado final será de elevada qualidade. Não nos devemos esquecer, no entanto, que algumas actividades de desenvolvimento, em especial jogos, simulações, estudos de caso, e tudo o que envolva animação ou vídeo, demoram necessariamente algum tempo. Estes são exemplos onde claramente o investimento e o nível de especialização de produção devem ser assegurados. De qualquer modo, o recurso a este tipo de objectos não é assim tão frequente, o que não invalida que a sua utilização deva ser justificável, quer em termos de custo, quer em termos de prazo.
Não nos devemos esquecer que é possível adoptar processos e modelos de desenvolvimento que tendem a encurtar o prazo de desenvolvimento, sem comprometer o orçamento ou a qualidade, como por exemplo, a utilização de um modelo iterativo, em vez de um modelo sequencial, ou adoptando práticas de maior colaboração entre os envolvidos, nomeadamente os autores, e os utilizadores finais.
Na Sinfic, concordamos com os que defendem que o "rapid eLearning" é, acima de tudo, uma forma de diversificação do eLearning face aos modelos tradicionais de conteúdos (os quais se têm demonstrado por vezes limitativos), e que levam a um modelo mais holístico de aprendizagem de base tecnológica. Mas não esqueçamos também que, por norma, a soma de dois dos factores custo-prazo-qualidade é inversamente proporcional ao terceiro factor e, assim, barato e rápido provavelmente não tem muita qualidade; com qualidade e rápido, provavelmente não é barato; barato e com qualidade, provavelmente não será rápido.
Pedro Geraldes, responsável pela unidade estratégica de negócio e-Learning da Sinfic.
Produzido em 2007