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Relações de compromisso

Tecnologias e Processos de eLearning


Ambientes de Aprendizagem Colaborativa


Não se pretende com este artigo entrar em discursos, ou análises que só animam aqueles que destróem e pouco ou nada se preocupam em construir. E não vamos seguramente discutir os aspectos pedagógicos associados às virtudes que estes ambientes nos disponibilizam, em particular no sector do ensino superior. Esperamos, isso sim, que este documento sirva de reflexão sobre as mudanças culturais e sociais, que nos têm demonstrado através de uma comunidade Web cada vez mais global, que as mentalidades mudam, na directa proporção em que evoluem as condições tecnológicas de que dispomos.


Assistimos hoje ao aparecimento de novas soluções tecnológicas que, assentando nos princípios da colaboração como forma de construir ambientes de aprendizagem mais "favoráveis" e estimulantes, tiram partido das novas ferramentas que têm vingado no contexto daquilo a que alguns chamam de Web 2.0.


De acordo com Tim O'Reilly, que popularizou a designação "Web 2.0", a definição para este "fenómeno" não é fácil, mas para si, Web 2.0 é uma mistura de ferramentas e sites que estimulam a colaboração e participação.


São bons exemplos deste conceito alguns dos mais populares sítios Web da actualidade, tais como o YouTube (www.youtube.com), MySpace (www.myspace.com), Flickr (www.flickr.com), Wikipedia (www.wikipedia.org), Blogger (www.blogger.com), ou PodShow (www.podshow.com), que vêm (para além de acrescentar um novo conjunto de termos aos nossos dicionários, com tudo o que isso significa!) demonstrar que cada vez mais as pessoas querem partilhar informação, e colaborar permanentemente em comunidades cada vez mais estruturadas, e mais globalizadas.


Para termos uma ideia do fenómeno, devemos tomar em consideração que, à data, a cada vez mais popular enciclopédia online Wikipedia dispõe já de 1,3 milhões de entradas. E isto só em língua inglesa. De referir que não existe qualquer outra enciclopédia que tenha melhor registo, antes pelo contrário: uma das mais populares publicações do género, a "Britannica", na sua versão electrónica, contém "apenas" 100 mil entradas.


Hoje é possível encontrar conteúdos em formato "podcast", por exemplo, sobre os mais variados temas, sendo que muitos deles existem (e são produzidos) em português. Assim, já podemos, confortavelmente, no percurso casa-trabalho-casa, por exemplo, ouvir as últimas novidades sobre a aplicação do Sistema de Gestão de Avaliações da Questionmark (http://www.questionmark.com/us/news/podcast/index.htm), alguns conteúdos de excelência propostos pela Universidade de Stanford (http://itunes.stanford.edu/) e, quem sabe, em breve, alguns conteúdos editados pela equipa da unidade de negócio de e-Learning da Sinfic, sobre os temas mais actuais da e-Aprendizagem.


O impacto destas novas tecnologias de informação e comunicação na vida moderna tem sido enorme. O mesmo se aplica, naturalmente, na educação em geral e no ensino superior em particular. Não será de estranhar que este fenómeno rapidamente substitua o modelo tradicional de ensino presencial (em que a aprendizagem decorre das relações aprendiz-conteúdo, ou aprendiz-instrutor) predominante no ensino superior, e que num futuro próximo, muita da aprendizagem ocorra de forma colaborativa on-line (em que a maioria da aprendizagem decorra da relação aprendiz-aprendiz).


Entenda-se que, num ambiente colaborativo, para além de se encontrarem em localizações diferenciadas, os aprendizes constróem o seu saber em grupos (ou comunidades). No entanto, estes grupos ou comunidades não serão, em muitos dos casos, integralmente virtuais, no sentido em os seus membros não se chegam a encontrar em dados momentos de forma presencial.


Serão, no entanto, comunidades de prática bastante reais, em que os seus membros criarão interdependências para criarem o seu contexto de aprendizagem. Dependendo das circunstâncias, estes grupos poderão ser formais, ou informais, grandes ou pequenos, homogéneos ou heterogéneos. Neste ambiente, em que a aprendizagem decorre da interacção do grupo, o instrutor será mais (apetece dizer "cada vez" mais) um facilitador da aprendizagem, do que um veículo de conhecimento.


É também importante referir que, neste contexto, a "aprendizagem" significará cada vez menos memorização, conhecimento "de pacote", ou orientação aos exames, mas cada vez mais orientação às práticas do mundo real, como comunicação, resolução de problemas, ou articulação de soluções.


Isto significa maior orientação ao mercado de trabalho e às exigências de quem espera por parte destes recursos maior capacidade de aplicação prática, em vez de conhecimento teórico. Mas também maior alinhamento com as expectativas de alguns dos instrutores e educadores, que procuram maior apreensão de conhecimento em detrimento de resultados positivos nos exames.


Uma das plataformas que mais se tem afirmado neste domínio é a plataforma SAKAI (www.sakaiproject.org). Originalmente fundada pela Mellon Foundation, o objectivo do Projecto Sakai (Sakai Project) é criar um sistema de gestão de cursos que compita contra algumas das ferramentas comerciais existentes, e simultaneamente as complemente.


As primeiras versões deste projecto eram baseadas em ferramentas já existentes nas diversas organizações que estiveram na sua origem, sendo que o componente mais importante teve origem na universidade do Michigan. As organizações envolvidas inicialmente - universidade de Indiana, MIT (Massachusetts Institute of Technology), universidade de Stanford, universidade de Michigan - tinham todas elas desenvolvido a sua própria versão de um sistema de gestão de cursos. Neste "consórcio" estavam também envolvidas a UPortal e a OKI-Open Knowledge Initiative.


Após o lançamento público da primeira versão, estas organizações convidaram outros parceiros a juntarem-se ao projecto, através do Programa de Parcerias Sakai, em que os parceiros contribuem financeiramente, e através de "código fonte" para o projecto. Já em 2005, foi criada uma fundação para efectuar a gestão do projecto, com o objectivo de este se manter viável ao longo do tempo. De referir que a utilização deste software é livre para instituições de ensino superior, e o programa de parcerias absolutamente opcional.


Actualmente, a Fundação Sakai conta com cerca de 70 universidades envolvidas, para além de um número crescente de parceiros tecnológicos, como a Sun ou a Oracle. Já em Julho deste ano (2006), e de acordo com um comunicado de imprensa, a IBM fez saber que realizou uma oferta de código fonte a esta fundação, com o objectivo de a mesma passar mais rapidamente a suportar cursos SCORM na sua plataforma.


A plataforma Sakai inclui hoje a maioria das funcionalidades existentes num Sistema de Gestão de Aprendizagem, nomeadamente gestão e distribuição de conteúdos, caderneta de classificações, fóruns de discussão, salas de conversação, upload de trabalhos, e exercícios online. Para além destas funcionalidades, a plataforma Sakai, como plataforma de aprendizagem colaborativa, dá ainda suporte a pesquisa e projectos, através de um conjunto de ferramentas baseadas em perfis de utilizador - tais como estudantes, instrutores, investigadores, equipas de trabalho, ou grupos ad-hoc - e inclui listas de distribuição de correio electrónico, wikis, arquivos, e mesmo conectores RSS (Really Simple Syndication).


Baseado em standards abertos, o Sakai oferece segurança, escalabilidade, e interoperabilidade. Cada vez mais vão aparecendo soluções integráveis com esta plataforma, de que são exemplos a solução de gestão de conteúdos de aprendizagem (LCMS) Learn eXact (www.learnexact.com), representada em Portugal e nos PALOPs pela Sinfic, ou uma das novas coqueluches para o ensino online a plataforma LAMS (Learning Activities Management System) (www.lams.org).


Apetece dizer que estamos a assistir ao advento do e-learning 2.0 (por analogia ao termo Web 2.0). Seguramente que o futuro passa por aqui!


Pedro Geraldes, responsável pela unidade estratégica de negócio e-Learning da Sinfic. 
 
 


Produzido em 2006

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