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Questões Tecnológicas na Escolha de Soluções de e-Learning


O e-learning tem a ver com aprendizagem. Sem o enfoque no aluno, nas necessidades de quem aprende e nas aptidões do estudante/formando, o e-learning simplesmente não existe. No entanto, quem permite a aprendizagem online é a tecnologia. Um estudante/formando não consegue aprender se tiver dificuldades técnicas.

Para garantir o sucesso do e-learning, a tecnologia tem que ter várias características que tornem a experiência de quem aprende e de quem ensina agradável. Nada abala mais o entusiasmo de um novo aluno em e-learning do que os problemas tecnológicos, ou nada acaba tanto com a vontade de um instrutor para trabalhar online como o software difícil de utilizar.

Este artigo considera diferentes tecnologias de e-learning e apresenta-as de uma forma resumida. Seguidamente, expõe as características de cada tecnologia que devemos ter em conta quando escolhemos uma solução de e-learning. Independentemente do nosso enfoque ser colocado no mundo académico ou empresarial, devemos considerar as características que seguem para facilitar a escolha de um programa de e-learning que seja capaz de suportar os instrutores e os formandos.

Tecnologias de e-learning

Existe um continuum do software de e-learning, indo desde o simples HTML, até sistemas de gestão de conteúdos de aprendizagem (ou Learning Content Management Systems - LCMS) complexos e capazes de responder às necessidades globais de uma empresa. Um dos segredos para implementar o e-learning com sucesso é escolher o software correcto para as necessidades. O software de e-learning tem que satisfazer as necessidades de quem recebe formação online, de quem dá formação online e, em muitos casos, dos indivíduos com responsabilidades administrativas para acompanharem e manterem os conteúdos.

De uma forma geral, podemos dizer que existem cinco tipos de software de e-learning que podem ser utilizados de forma isolada ou combinada:

  • Ferramentas de produção de conteúdos (linguagens de programação e soluções de authoring);
  • Sistemas de gestão da aprendizagem (ou Learning Management Systems - LMS);
  • Sistemas de gestão de conteúdos / sistemas de gestão de conteúdos de aprendizagem;
  • Sistemas de salas de aula virtuais;
  • Sistemas de gestão de avaliações.

Ferramentas de produção de conteúdos

a) Linguagens de programação. A linguagem de programação mais comum para a aprendizagem online é a Hyper Text Mark Up Language, ou HTML. É possível desenvolver uma lição online simples utilizando HTML. No entanto, a utilização desta linguagem não permite níveis elevados de interactividade para quem aprende. A maior parte dos sites de aprendizagem online baseados em linguagens de programação adicionam itens como Java, JavaScript, PEARL, ou mesmo scripting CGI para aumentar o nível de interactividade entre quem aprende e o software. As linguagens de programação fornecem uma grande flexibilidade e liberdade a quem desenvolve para a criação de aprendizagem online.

b) Soluções de authoring. Estas soluções são concebidas especificamente para ultrapassar as dificuldades de muitos instrutores relativamente à utilização de linguagens de programação. A maior parte das soluções de authoring têm uma orientação bastante gráfica, pelo que não requerem qualquer esforço de codificação. O software realiza a codificação em background e os instrutores só têm que se preocupar em colocar a informação no local certo. Inserem imagens, destacam texto, ou movem objectos no ecrã com a ajuda do rato. O software encarrega-se das interacções de codificação e da funcionalidade em background.

Um dos pontos fracos das soluções de authoring reside na sua incapacidade para acompanhar e monitorizar o desempenho dos formandos ao longo do tempo. Estas soluções são concebidas tipicamente para a criação de uma lição e para a obtenção imediata de feedback por parte dos formadores, e não para o armazenamento a longo prazo de dados de desempenho.

Paralelamente, a maior parte das ferramentas de authoring não têm funcionalidades que permitam a interacção em "tempo real" entre estudantes. Também não têm chat, fóruns de discussão, ou funcionalidades de áudio bidireccional. Isto quer dizer que são limitadas em termos de interactividade para o formando.

Sistemas de gestão da aprendizagem

Os sistemas de gestão de aprendizagem (ou LMS) são concebidos especificamente para o acompanhamento do desempenho de múltiplos formandos. Podem estar orientados para a realidade académica, ou mais orientados para o mundo das empresas, mas uma das suas grandes vantagens reside na sua possibilidade de acompanharem e guardarem os desempenhos dos utilizadores numa avaliação contínua. Por exemplo, podem acompanhar o número de acessos a uma certa área do site, ou o tempo que um formando dedica a uma certa área do curso.

Estes sistemas permitem que os formandos se registem para os cursos. Uma vez registados, o sistema envia automaticamente avisos aos estudantes para acederem a uma determinada aula online. Paralelamente, permitem a gestão da maior parte das funções administrativas. Os alunos podem consultar as notas, conversar com outros alunos (chat) e participar em áreas de grupo especiais onde só podem entrar os membros desses grupo.

Sistemas de gestão de conteúdos de aprendizagem

a) Sistemas de gestão de conteúdos (ou Content Management Systems - CMS). As gestão adequada dos formandos é um aspecto crítico. No entanto, também é importante o acompanhamento e catalogação dos elementos gráficos e dos ficheiros de áudio, de vídeo e de texto. Um CMS ajuda os formadores a catalogar, acompanhar e manipular os conteúdos que são utilizados nos cursos online.

Para os formadores individuais ou para quem trabalha isoladamente, a gestão dos conteúdos não é normalmente um aspecto crítico. Os formadores têm alguns CD-ROM ou conteúdos nos seus computadores e sabem onde esses ficheiros estão guardados. No entanto, nas situações em que existem vários formadores a criar cursos, a gestão dos conteúdos torna-se mais difícil.

Um CMS é uma base de dados de conteúdos com palavras chave e capacidades de pesquisa, de modo que os formadores ou quem faz desenvolvimento podem localizar facilmente aquilo que precisam. Os CMS são eficazes quando um grande número de formadores estão orientados para o desenvolvimento de cursos e pretendem reutilizar conteúdos em vários cursos. A reutilização de conteúdos permite reduzir o tempo de desenvolvimento.

b) Sistemas de gestão de conteúdos de aprendizagem (ou Learning Content Management Systems - LCMS). Estes sistemas são uma combinação de vários tipos de software de e-learning. A maior parte dos LCMS disponibilizam capacidades para acompanhar os utilizadores, proceder à autoria de conteúdos e armazenar/recuperar conteúdos. Estas "mega" soluções permitem que as organizações disponham de soluções globais que abarcam todas as necessidades de software de e-learning.

Se os LCMS forem implementados e utilizados de forma adequada, podem ser rentáveis em termos de custo. Infelizmente, no entanto, estes sistemas são implementados muitas vezes nas organizações sem uma clara compreensão da forma como irão ser utilizados e sem um plano para a maximização das suas funcionalidades.

Sistemas de salas de aula virtuais

As salas de aula virtuais são ambientes baseados na Web que permitem participar em eventos de formação ao vivo. Podem ser utilizadas para aulas, exercícios de laboratório, colocação de questões e obtenção de feedback como numa sala de aulas convencional. As salas de aula virtuais, ou sistemas de e-learning ao vivo, são ferramentas utilizadas para quando se pretende que a comunicação aconteça ao mesmo tempo entre os indivíduos e a informação seja acedida de forma imediata.

Como exemplos de ferramentas de e-learning ao vivo, podemos referir a videoconferência e a audioconferência em tempo real. A utilização destes sistemas permite feedback imediato sobre o desempenho dos alunos e permite que a formação seja ajustada de acordo com as necessidades.

As experiências em salas de aula virtuais são geralmente mais satisfatórias do que a pura interacção aluno-máquina. Além disso, reduzem significativamente o tempo necessário para preparar uma sessão, comparativamente com a preparação de um curso standalone.

Sistemas de gestão de avaliações

Os sistemas de gestão de avaliações fornecem um conjunto de ferramentas que permitem facilitar a criação, garantir a segurança e criar relatórios de questionários, testes e exames. Estes sistemas disponibilizam aos educadores várias funcionalidades de gestão das avaliações, nomeadamente gestão de workflow, criação distribuída, publicação drag-and-drop, criação HTML WYSIWYG e capacidades de gestão de conteúdos que facilitam a organização, armazenamento, segurança e publicação dos conteúdos de avaliação.

Características dos softwares de e-learning

Independentemente do nível de software que escolhemos para a nossa solução de e-learning, é necessário considerar várias características importantes:

  • Capacidade de manutenção;
  • Compatibilidade;
  • Facilidade de utilização;
  • Modularidade;
  • Acessibilidade.

Cada uma destas características é crítica para o sucesso. Convém sublinhar que, na realidade, muitas das características se sobrepõem. No entanto, se olharmos para cada uma delas individualmente, podemos obter uma compreensão mais alargada das necessidades tecnológicas das soluções de e-learning.

Capacidade de manutenção

A capacidade de manutenção, a longo prazo, da tecnologia de e-learning adoptada é um aspecto crítico. Se for difícil adicionar novos utilizadores (ou apagar os antigos), adicionar conteúdos, ou reciclar questionários, o mais provável é que os instrutores abandonem rapidamente a tecnologia. Adicionalmente, se for difícil realizar actualizações ou aumentar a capacidade do servidor, surgirão problemas de flexibilidade. Certamente ninguém quererá ficar à mercê do fornecedor para a manutenção e alterações ao sistema de e-learning.

Os sistemas também deverão ser fáceis de administrar. O mesmo deve acontecer com a actualização dos conteúdos dos cursos, utilizando templates existentes. Outro aspecto a privilegiar é a separação entre os conteúdos e a estrutura, de modo a ser possível actualizar os conteúdos sem apagar acidentalmente itens de menu ou de navegação críticos. De igual modo, convém verificar o sistema de ajuda para garantir que é realmente útil.

No exame ao software, há que garantir a facilidade de manutenção, tanto dos conteúdos, como do próprio software. Deve-se considerar a capacidade de reciclar os cursos, removendo utilizadores e resultados de teste, mas não os conteúdos desses cursos. Por exemplo, se um curso for utilizado de forma sucessiva ao longo de algum tempo, deve-se considerar a presença de funcionalidades que permitam retirar os alunos antigos e introduzir os novos alunos. Também será conveniente dispor da possibilidade de arquivar os registos dos alunos antigos.

Compatibilidade

Relativamente a esta característica, devemos considerar soluções de e-learning que sejam compatíveis com outras congéneres existentes no mercado. Não é boa política adoptar uma solução que ligue o cliente e o fornecedor para o resto da vida. Devem-se escolher os fornecedores com softwares e standards largamente reconhecidos. Apesar de ser impossível adoptar uma solução que seja compatível com todos os LMS ou standards do mercado, é possível escolher soluções de e-learning que sejam reconhecidas e utilizadas por uma grande parte do mercado.

Em primeiro lugar, haverá que determinar quais são os standards mais relevantes para cada caso. Por exemplo, devem-se colocar questões do tipo:

  • Precisamos de mudar conteúdos de um LMS para outro?
  • Vamos criar conteúdos para serem colocados em vários LMS?
  • Vamos utilizar a solução de authoring que vem com o LCMS que adquirimos?
  • Precisamos de encontrar empregados que possam criar cursos rapidamente utilizando este software?

Uma forma de garantir a compatibilidade consiste em verificar se o software de e-learning respeita determinados standards que estão a emergir nesta indústria. O básico a nível dos standards de e-learning é permitir que os módulos da solução de um fornecedor partilhem informação com os módulos das soluções de outros.

São várias as organizações que desenvolvem standards para esta área, nomeadamente a AICC (Airline Industry CBT Committee), a Advanced Distributed Learning (ADL) - que tem vindo a trabalhar no SCORM (Sharable Content Object Reference Model) - e o IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers). O SCORM é actualmente uma referência no mercado do e-learning. No entanto, convém ter em conta que a compatibilidade com um standard como o SCORM não garante automaticamente a interoperabilidade.

A interoperabilidade é a capacidade de pegar num curso e utilizá-lo noutros LMS distintos sem problemas. Os standards são apelas linhas de orientação para a interoperabilidade, mas podem ser interpretados de forma diferente pelos vários fornecedores. É importante saber quais os tipos de cursos que queremos que interajam com o nosso LMS para podermos determinar junto dos fornecedores se esses cursos podem funcionar com os seus LMS. Não se pode tomar como certo que um curso compatível com SCORM é compatível automaticamente com um LMS compatível com SCORM.

Facilidade de utilização

Outro aspecto técnico a considerar é a facilidade de utilização. Este aspecto é importante porque se a tecnologia for vista como difícil de utilizar e/ou de navegar, os potenciais alunos e instrutores tenderão a colocá-la de parte. O software deve ser intuitivo. Deve ser fácil utilizar o menu de ajuda, passar de uma secção do curso para outra e estabelecer comunicações com o instrutor. Os instrutores também não quererão ler grandes manuais para aprenderem a criar conteúdos. O software tem que ser simples e linear, não só para os alunos e para os formadores, como também para os administradores.

Modularidade

As soluções de e-learning podem ser desenvolvidas actualmente como pequenos objectos de conhecimento intercambiáveis. Um objecto de conhecimento, ou objecto de aprendizagem, é um pedaço de conteúdo instrutivo. É um pedaço de informação auto-contida que pode ser reutilizado à medida das necessidades para responder às necessidades de instrução. Estes pedaços de instrução podem ser movidos facilmente de um curso, lição, ou programa para outro elemento de e-learning completamente diferente. A ideia subjacente é reduzir o tempo de desenvolvimento, graças à reutilização dos objectos de aprendizagem.

A analogia utilizada com maior frequência para ilustrar os objectos de aprendizagem são as peças de Lego. Cada objectos de aprendizagem é auto-contido e pode ser facilmente adicionado ou subtraído a outros objectos semelhantes, como acontece com as peças de Lego. Nos casos em que se considerar necessária a reutilização de pedaços dos materiais dos cursos, deverá considerar-se um sistema de e-learning que suporte este tipo de funcionalidade.

Acessibilidade

A acessibilidade pode abarcar dois níveis. O primeiro nível tem a ver com o facto do programa de e-learning estar acessível a todos os indivíduos, independentemente dos obstáculos físicos. Isto poderá significar que o software de e-learning seja conforme aos standards Americans with Disabilities Act (ADA) Section 508, ou outros impostos por governos.

Neste caso, o sistema de e-learning poderá que ter de ser compatível com leitores de ecrã (software que lê literalmente as palavras da página Web para indivíduos que não conseguem ver o texto). Apesar da maior parte dos leitores de ecrãs fazerem um bom trabalho na leitura de texto, os instrutores ou quem desenvolve cursos pode facilitar ainda mais a vida aos alunos com deficiência, seguindo determinadas convenções. Uma delas consiste em adicionar uma tag alternativa a cada elemento gráfico para explicar o propósito e o significado desse elemento.

O segundo nível consiste em assegurar que a tecnologia a adquirir está disponível a todos os utilizadores. Por exemplo, se um dos alunos não tiver o plug-in mais recente do Macromedia Flash, não conseguirá visualizar uma simulação criada com a última versão do Flash. Ou então, se a estrutura de tabelas utilizada é para o browser 5.0 e o aluno só tiver o browser 4.0, poderá não ser capaz de aceder à informação. É necessário saber aquilo a que os alunos podem aceder sem obstáculos técnicos. A solução de e-learning adoptada tem que ser testada com os browsers que irão ser utilizados pelos alunos.

É necessário testar vários cenários para assegurar que o sistema de e-learning funciona adequadamente com as plataformas que queremos utilizar na prática. É preferível testar a solução apenas com algumas máquinas representativas da plataforma, do que colocá-la em funcionamento com 40 000 pessoas e chegar à conclusão que falhou. Se conseguirmos controlar o ambiente técnico dos alunos, devemos recomendar vivamente configuração do equipamento a adoptar.

Conclusão

A parte electrónica do e-learning é crítica para o sucesso dos alunos e para o programa online. Deve-se ter em conta o tipo de software de e-learning que queremos utilizar para chegar aos alunos - podendo ir desde uma solução para o desenvolvimento de uma simples página Web destinada a adicionar valor a uma aula, até um LCMS completo que inclui o registo da aprendizagem e o desenvolvimento de cursos.

Independentemente da solução necessária, devem-se ter em conta cinco elementos característicos de qualquer tecnologia de e-learning. Se considerarmos a capacidade de manutenção, a compatibilidade, a facilidade de utilização, a modularidade e a acessibilidade quando escolhermos o software de e-learning, a implementação terá maiores garantias de eficácia e de sucesso. Também se deve dedicar um cuidado especial ao tipo de solução de e-learning que precisamos para respondermos às necessidades dos alunos, dos administradores e dos formadores.

Baseado no texto "Five Technological Considerations When Choosing an E-Learning Solution", de Karl M. Kapp, Assistant Director and Associate Professor of the Institute for Interactive Technologies, Bloomsburg University.

Produzido em 2005

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