O crescente aumento da utilização de objectos de aprendizagem promete fazer aumentar a eficácia do ensino, de forma a tornar os conteúdos mais disponíveis e a reduzir o custo e o esforço para produzir conteúdos de qualidade, tornando os artefactos mais fáceis de partilhar. O objectivo é cumprir com a necessidade de aumentar significativamente a capacidade de adaptação dos objectos de aprendizagem para encaixarem numa necessidade especifica de um utilizador tipo, ou de um grupo de utilizadores, e permitir uma maior flexibilidade para a produção de cursos em grande escala e, ao mesmo tempo, de forma personalizada, permitindo assim personalizar o ensino.
Para que o ensino a distancia seja uma boa experiência, é necessário existir uma plataforma que crie o ambiente de aprendizagem, que faça a gestão dos conteúdos de forma coerente e que oriente o formando durante todo o seu percurso formativo.
Para o efeito, existem no mercado as mais variadas soluções. No entanto, a simples existência destas plataformas, por si só, não é suficiente. Por outro lado, a sua eficiência pode ser posta em causa se os conteúdos não corresponderem às especificações.
A existência de um forte consenso e a adopção de standards para a interoperabilidade irá, com certeza, aumentar de forma significativa os níveis de desempenho e ajudar os produtores de conteúdos a libertarem-se das soluções proprietárias, com óbvias vantagens em termos de produção, custos e disseminação.
São várias as instituições (IEEE, IMS, AICC, entre outras) que estão a trabalhar no desenvolvimento de especificações para o e-learning. Algumas delas são responsáveis pelos actuais standards para a distribuição de conteúdos de aprendizagem electrónicos.
Por vezes, estas especificações são suficientes para criar objectos de aprendizagem em plataformas de gestão da aprendizagem (LMS - Learning Management System). Outras vezes não são, e é por essa razão que a comunidade de e-learning mundial tem diversos projectos de pesquisa e desenvolvimento em parceria, com o objectivo de melhorar as especificações existentes. Pretende-se contribuir assim para a melhoria das especificações actuais, de modo a fazer com que se ajustem aos novos paradigmas da educação.
A adopção de standards permite que diferentes aplicações definam os seus conteúdos de forma a que a informação seja passível de ser trocada sem qualquer tipo de problemas.
A importância do SCORM como standard no contexto actual
Com o objectivo de descrever a forma como os conteúdos podem ser trabalhados, fazendo com que sejam partilháveis e interoperáveis, importa referir o SCORM que, no perfil aplicacional, se baseia num subconjunto de especificações IMS de carácter obrigatório.
Com o objectivo de indexação, empacotamento e sequenciamento de objectos de aprendizagem, desenvolveu o seu próprio modelo de acompanhamento CMI (Computer Managed Instruction), de forma a acompanhar o percurso do formando na navegação sobre os objectos de aprendizagem e a possibilitar a navegação sequencial adaptativa e/ou condicional com base nos conteúdos ou no desempenho do formando.
O SCORM não é mais do que um conjunto de especificações para o desenvolvimento, empacotamento e distribuição de conteúdos formativos. É o resultado de uma iniciativa do governo dos Estados Unidos da América na Advance Distributed Learning (ADL), com a finalidade de promover o acesso a materiais de alta qualidade e que fossem facilmente adaptados às necessidades específicas de cada formando.
O SCORM aplica tecnologia actual - desenvolvida por grupos como o IMS Global Learning Consortium, o AICC e o IEEE Learning Technology Standards Committee (LTSC) - a um modelo de conteúdos específico, com o objectivo de produzir recomendações consistentes destinadas a serem utilizadas pelos fabricantes na construção de conteúdos e ferramentas.
A necessidade dos standards
A possibilidade de escolha e a concorrência são consideradas geralmente benéficas para qualquer indústria. No entanto, o rápido crescimento do número de produtores de conteúdos e de ferramentas de ambientes de aprendizagem virtuais criou um grande problema para quem produz e consome conteúdos.
Sem uma especificação comum para o empacotamento de cursos online, os produtores das plataformas de ambientes de aprendizagem virtuais utilizam frequentemente diferentes formas de organizar as suas bases de dados de conteúdos. O resultado traduz-se em diferentes formas de empacotamento dos conteúdos.
Embora estes conteúdos sejam todos entregues via http, ou outro protocolo standard, quando um autor pretende mover um conteúdo de uma plataforma para outra, depara-se com uma tarefa algo complicada e que, regra geral, vai consumir muito tempo, obrigando, em determinados casos, a reconstruir o curso na totalidade. A ADL está a desenvolver um conjunto de especificações para empacotar conteúdos e cursos online. O objectivo é permitir o transporte de conteúdos ou cursos de uma plataforma para outra de forma simples.
Os cursos SCORM alavancam os investimentos feitos no desenvolvimento dos cursos, uma vez que asseguram que os mesmos estão acessíveis para que possam ser indexados e prontamente pesquisados. De igual modo, asseguram a interoperabilidade (para que possam operar numa grande variedade de hardware, sistemas operativos e browsers) e a durabilidade (para que possam ser adaptados e utilizados por várias ferramentas de desenvolvimento).
O objectivo do modelo de agregação de conteúdos SCORM é promover um meio comum para compor conteúdos de aprendizagem a partir de fontes pesquisáveis, partilháveis e inter-operáveis. Também define a forma como os conteúdos podem ser identificados, classificados e agregados a um curso, bem como os métodos técnicos para conseguir os propósitos mencionados atrás. O modelo contém especificações para agregar conteúdos e definir metadados.
O objectivo do ambiente run-time do SCORM é proporcionar um meio de interoperabilidade entre conteúdos-objectos partilháveis e plataformas. Um requisito do SCORM é a interoperabilidade entre plataformas de conteúdos de aprendizagem, independentemente das ferramentas utilizadas na elaboração dos conteúdos. Para que isto seja possível, deve existir uma forma comum de iniciar o conteúdo, uma forma de o mesmo comunicar com a plataforma, e elementos de dados predefinidos que são trocados entre a plataforma e o conteúdo durante a sua execução.
Actualmente, o SCORM está na versão 1.3 e inclui um modelo avançado para o sequenciamento de conteúdos, integrando também a especificação de sequência simples IMS (que proporciona herança nos objectos de aprendizagem, ramificação sequencial condicional e personalização).
O futuro
Estamos a assistir a uma revolução tecnológica. O rápido crescimento da largura de banda, as ligações à Internet cada vez mais rápidas, ou o surgimento de tecnologias mais eficientes (como o XML e os Web Services) irão colocar-nos num patamar mais alto na inter-relação de conteúdos, comunidades e contextos, trazendo ao formando uma maior e melhor experiência de aprendizagem. Os conteúdos também serão utilizados com maior eficiência e eficácia.
As ferramentas de ambientes de aprendizagem são a resposta das tecnologias educacionais ao crescimento pedido pelas novas tecnologias, capazes de gerir e distribuir os conteúdos online. Tudo isto só se justifica se os conteúdos atingirem um nível de granularidade que os eleve ao nível de objectos de aprendizagem, com o sentido do reaproveitamento, acompanhamento e sequenciamento, promovendo assim maiores níveis de personalização e adaptação dos conteúdos.
Infelizmente, as especificações actuais nem sempre são suficientes para cobrir todas as necessidades dos cada vez mais complexos objectos de aprendizagem. Por esta razão, os fornecedores de conteúdos e de tecnologias e os instructional designers estão a trabalhar em conjunto para melhorarem as especificações actuais e promoverem a sua utilização, tendo em vista uma melhor difusão e exploração dos objectos de aprendizagem.
Nuno Melo, consultor e-learning na UEN e-Learning da Sinfic.
Produzido em 2005