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Relações de compromisso

A Importância da Interactividade nos Cursos Online


Os formandos têm mais sucesso nos cursos online que dão amplas oportunidades de interacção com o formador, com outros formandos e com os conteúdos. Um curso online deve "olhar" para os formandos como participantes activos e não como passivos. Como podem os formadores projectar conteúdos e salas de aula virtuais que contenham várias experiências de aprendizagem interactiva com maior probabilidade de sucesso, é a grande questão.

A percepção que os formandos têm da interactividade de um curso online pode influenciar na avaliação que estes fazem do curso. Um curso pouco interactivo irá criar, provavelmente, a sensação no formando de não acompanhamento e que o seu desenrolar não está a ser avaliado. Alguns estudos dizem que os formandos têm mais sucesso quando tiram um curso online, sempre que este permita que sejam interactivos, pois assim promove-se a aprendizagem e a colaboração.

Para assegurar que os cursos promovem uma interacção eficaz, os formadores precisam de confirmar que os formandos compreenderam as suas expectativas, que o conteúdo do curso é fácil de seguir e que existem oportunidades de feedback para os formandos e formador.

Podemos dividir a interactividade em três categorias principais: formando-formador, formando-formando e conteúdos-formando. Cada uma das categorias pode ser ainda subdividida para esclarecer o carácter específico de cada interacção. Ou seja, o que é, onde ocorre, quem a desencadeia e quando e como é conseguida. As interacções podem acontecer em locais públicos (como os fóruns de discussão) e em espaços mais confidenciais (como o e-mail).

Um formando pode iniciar a interacção com o formador e vice-versa, e as interacções podem ocorrer de forma síncrona (por exemplo recorrendo a ferramentas de chat específicas dos LMS, ou complementares, como o MSN Messenger ou o ICQ), ou de forma assíncrona (por exemplo, com o post de mensagens em lugares próprios dos LMS, como os fóruns de discussão).

Interacção formando-formador

Num curso presencial, os formandos vêem o seu formador pelo menos algumas vezes por semana. Num curso online, o recurso contínuo ao e-mail pode ser a versão electrónica do contacto directo que os formandos têm com o formador. O e-mail é a forma de comunicação mais comum nos cursos online. No entanto a sua característica assíncrona faz com que exista um desfasamento entre o tempo de pergunta e resposta, em particular se é num curso onde existe sensibilidade nesse sentido.

Para minimizar esse problema, as respostas aos e-mails devem ser dadas o quanto antes. Muitos dos formadores criam regras para reposta a esses e-mails, não ultrapassando as 12 horas o tempo de resposta após a recepção. Em algumas situações, tais como vésperas de avaliações ou de final de curso, este tipo de resposta deve ser mesmo um compromisso.

A maior parte dos formandos aprecia atenção adicional e individualizada em tempo real. As conferências online são uma das formas de conexão entre os formandos e podem ser criadas através de ferramentas gratuitas de mensagens (por exemplo, AOL, Yahoo, ICQ, MSN Messenger, Mensageiro Sapo), ou através de algumas ferramentas síncronas já incluídas em Sistemas de Gestão da Aprendizagem (por exemplo, o IntraLearn).

Estas ferramentas têm uma particularidade interessante e útil durante o tempo de expediente. Se os formandos e formadores trocarem os seus contactos, sabem quando estão disponíveis e, assim, podem esclarecer as suas dúvidas de forma imediata. Outra opção são os chats, que proliferam na Internet, existindo também nos LMS (Learning Management System), que podem ser a ferramenta necessária para as conversações online. Há ainda outras ferramentas com muito mais funcionalidades e potencialidades, chamadas ferramentas de e-colaboração, tais como o LearnLinc, que permitem uma muito maior interacção entre os intervenientes.

A grande vantagem destas ferramentas síncronas é a recepção imediata de feedback por parte dos formandos. Durante o horário de trabalho, é possível que os formandos coloquem questões e recebam as respostas de forma mais rápida do que com o e-mail. Existem, contudo, desvantagens que não devem ser descuradas, pois o formando tem de colocar a sua questão/intervenção num período relativamente curto e o ritmo normal deste tipo de mensagens é rápido, podendo haver desfasamentos entre assuntos discutidos.

Uma vez que os formandos tenham desenvolvido algum tipo de relacionamento com o formador, sentir-se-ão mais confortáveis para colocar questões em lugares de discussão públicos, como o fórum de discussão. As trocas de informação entre formando e formador podem ser muito mais eficientes se o primeiro procurar, encontrar e colocar informação online que beneficie todos os outros.

Ao estabelecer políticas para o tratamento da interactividade online através das várias ferramentas supracitadas, é importante relembrar que a comunicação síncrona e a assíncrona promovem diferentes tipos de interactividade. Nas conversações assíncronas, como os fóruns de discussão, as mensagens colocadas podem receber mais comentários e ter um maior seguimento, pois os formandos têm mais tempo para reflectir e responder. Nas síncronas, existe a pressão da resposta nos participantes, sendo esta mais rápida, linear e breve. Consequentemente, este tipo de comunicação pode não ser apropriado a temas de discussão de conceitos difíceis que necessitam de explicações longas.

Interacção privada formador-formando

O formador não deve estar disponível apenas quando os formandos o contactam. Deve também, por iniciativa própria, iniciar uma comunicação regular com os formandos, quer em grupo, quer individualmente. Tal comunicação ajuda os participantes a estarem focalizados e a gerir melhor o seu tempo e produtividade no curso.

O formando que mais provavelmente terá sucesso num curso online, é motivado e capaz de trabalhar de forma independente. Embora seja agradável pensar que todos os que transitam para os cursos online possuem naturalmente estas qualidades, o formando ideal não é necessariamente o formando típico. Através do e-mail, o formador deve ajudar individualmente os formandos a estarem motivados na sala de aula online.

As breves mensagens de e-mail que elogiam um participante por um projecto bem feito, ou que exploram uma sua ideia, são formas de afirmar o ambiente de aprendizagem. E como essa comunicação não é solicitada, o formador deve usá-la frugalmente. Embora os serviços de mensagens instantâneas tenham funcionalidades próprias que nos permitem saber quem está online, devemos, no entanto, ter cuidado, pois os formandos poderão estar a consultar os conteúdos do curso. Ou seja, nem sempre a interacção em tempo real é a mais eficaz. O ideal será efectuar a marcação dessas conferências através do e-mail, pois assim existirá, por parte dos participantes, uma melhor preparação para a conversação síncrona.

Interacção pública formador-formando

Num curso presencial, a discussão de ideias é a forma mais comum de promover a participação. Em cursos online, estas discussões podem ocorrer com recurso a ferramentas síncronas. Estas são as que mais se assemelham ao ambiente de uma sala de aula presencial. No entanto, orquestrá-las é um desafio!

Não se pode esquecer que a natureza rápida das conversações em tempo real pode tornar a participação de alguns formandos ainda mais difícil, especialmente para aqueles que escrevem, lêem ou respondem mais lentamente. O fornecimento de tópicos ou questões aos participantes num fórum de discussão, antes de uma sessão em tempo real, vai fazer com que se sintam mais confiantes para uma sessão síncrona. Consequentemente, estas sessões serão mais produtivas.

Por outro lado, as discussões assíncronas dão aos formandos, não só uma maior flexibilidade no contributo, mas também a possibilidade de produzirem respostas numa linguagem mais cuidada. Mais importante do que a tecnologia utilizada pelos participantes para comunicarem, é assegurar que todos eles participam e saber de que forma a sua participação deve ser avaliada.

Vários estudos sugerem que a participação deve ser avaliada para reconhecer o compromisso dos formandos relativamente ao curso e para os incentivar a contribuir. Desta forma, no início do curso deve-se apelar à participação de todos os formandos nas discussões. Os formadores têm a responsabilidade de destacar a importância da comunicação, transformando-se eles próprios em participantes activos. Ao participarem nos fóruns, asseguram que as discussões se transformam num aspecto dinâmico do curso.

Tentar controlar discussões sem se transformar na voz dominante do grupo, não é uma tarefa fácil para o formador. Um método útil é colocar questões aos comentários dos formandos, tendo por principal objectivo o estímulo das suas ideias, de forma a encorajá-los a irem ainda mais longe na discussão em causa. Este método é preferível à criação de novos tópicos, evitando assim uma situação em que a discussão degenera "na conversa do professor" e onde os formandos discutem os tópicos e as ideias desse.

Interacção formando-formando

Facilitar a interacção "formando-formando" é a chave para o sucesso de qualquer curso online, não esquecendo, contudo, que a capacidade dos formandos comunicarem entre si através das discussões incorporadas no curso é também um factor primordial. Os participantes beneficiam pois da interacção com os seus pares. Por outro lado, o anonimato (conseguido com a utilização de pseudónimos), incentiva-os a serem mais activos nos comentários.

A existência de um espaço próprio para os formandos interagirem anonimamente facilita a procura de assistência/informação, sem nunca revelarem as suas identidades. Este tipo de interacção anónima é útil, não somente como uma ferramenta informativa para os formandos, mas também como uma maneira de trocarem as suas experiências, sejam elas negativas ou positivas, acerca do curso.

Usados mais formalmente, os espaços restritos ao formando também podem transformar-se em recursos valiosos para a e-colaboração. Com este tipo de sincronia, executam uma atribuição de tarefas, ajustam objectivos e delegam responsabilidades, permitindo ainda uma forte troca de ideias. Resta salientar que estes ambientes conferem experiência na gestão de projectos online.

Interacção formando-conteúdos

De acordos com os gurus da usabilidade e navegabilidade, um curso neste formato deve ser organizado de forma lógica e ser facilmente navegável. Podemos dividir a interactividade em três categorias:

  • Navegável (por exemplo, o utilizador clica em diferentes links e vai para diferentes páginas);
  • Funcional (o utilizador e os sistemas trabalham em conjunto para atingir um objectivo - por exemplo, encontrar informação);
  • Adaptativa (o utilizador tem a possibilidade de alterar a página).

As primeiras duas categorias são relevantes ao avaliar o grau de interacção de formandos e índice de cursos. Idealmente, um LMS não deve ser simplesmente um repositório de informação, mas também um espaço onde os formandos participam activamente no curso. Esta forma de interactividade funcional pode ser conseguida através de ferramentas supracitadas.

Apesar de várias ferramentas criarem conteúdos com alguma facilidade para cursos online, deve ser constituída uma equipa entre técnicos de hardware, multimédia e pedagogos, de forma a criar conteúdos com qualidade. Além de compreender a tecnologia, é necessário olhar a parte pedagógica do projecto como primordial. O desenho da instrução é, inclusivamente, um processo transversal no desenvolvimento de qualquer e-conteúdo.

Os sistemas de gestão da aprendizagem, onde se encontram os cursos e conteúdos, devem ser o mais esteticamente convidativos possível, fazendo saber facilmente qual a estrutura do curso e recursos disponíveis. Uma estrutura navegacional que seja prontamente perceptível pelos formandos, fará com que estes compreendam facilmente as secções principais do curso e como se mover entre as mesmas.

O e-learning é, por defeito, mais direccionado ao formando. Desta forma, é necessário dar sugestões adicionais para que se trace um caminho e não se permita o desvio do conteúdo. É necessário fornecer um manancial de recursos, pois nem todos os formandos têm as mesmas preferências no que toca a fontes de informação. Assim, se os fornecermos em conta e medida, terão mais argumentos para a participação nas discussões online.

Durante todo o processo de aprendizagem, irão descobrir estratégias que os façam aprender de forma mais eficiente e utilizar o tempo de forma mais produtiva. Uma maneira eficaz de avaliar o desenho pedagógico é pedir aos alunos para darem o seu feedback relativamente ao curso. O objectivo da solicitação do feedback é perceber melhor como facilitar a experiência de aprendizagem, que oferece múltiplos caminhos costumizados para formandos individuais.

Num curso online devem ser integrados vários tipos de interactividade, para além do texto, sendo uma ajuda poderosa a incorporação dos vários meios. Aumentar e diversificar oportunidades para a interactividade envolve gestão, tempo e energia. Criar uma experiência de aprendizagem online mais interactiva, só pode ajudar à criação de um ambiente onde os formandos têm mais probabilidades de sucesso. Quanto mais oportunidades o formador criar para a interacção, mais a aprendizagem será activa e profícua.

Fernando Pinto, consultor e-learning UEN e-Learning da Sinfic.

Produzido em 2005

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