O crescimento das tecnologias móveis, a aprendizagem através de simulações e as ferramentas open source são algumas das tendências identificadas por um estudo recente encomendado pela Comissão Europeia. O estudo foi publicado no passado mês de Abril e teve como objectivo examinar a estrutura, as características e as tendências dos fornecedores de e-learning.
Não existem grandes dúvidas de que as soluções e os serviços de aprendizagem do futuro irão ser integrados num conjunto de tecnologias móveis. A curto prazo, essas tecnologias incluirão os telefones móveis e os PDAs, por exemplo. A mais longo prazo, surgirão dispositivos móveis que ainda não existem no mercado. Actualmente, estão a evoluir dois mercados potenciais distintos:
1. Os serviços de aprendizagem para pessoas com grandes necessidades de mobilidade - pessoas com profissões que exigem deslocações contínuas, pessoas que aprendem e recebem informação enquanto visitam instalações, alguns estudantes (a tempo inteiro ou parcial) que precisam de uma educação individualizada enquanto se deslocam ou enquanto estão em projectos externos.
2. Os serviços de aprendizagem para pessoas que não dispõem de infra-estrutura ou de acesso fixo - nomeadamente em áreas rurais, remotas ou em países em desenvolvimento.
Graças a projectos em grande escala e a várias actividades de pesquisa, já foram desenvolvidas e testadas várias demonstrações de aprendizagem móvel. Por exemplo, nos Estados Unidos, a utilização de PDAs nas escolas e em profissões que exigem grande mobilidade, já foi adoptada com bons resultados em termos de melhoria da aprendizagem.
Na Europa, a aprendizagem móvel está a começar a desenvolver-se agora. No entanto, algumas companhias de telecomunicações, como a Nokia e a Vodafone, já integraram estas tecnologias nos seus sistemas de formação e de desenvolvimento. Apesar disto, ainda está por acontecer um crescimento real noutros sectores de actividade.
O crescimento deste mercado só irá tornar-se realidade a médio/longo prazo. Além disso, irá depender da capacidade dos grandes fornecedores de sistemas de educação e de formação para ultrapassarem as barreiras culturais e organizacionais que continuam a existir. A longo prazo, as soluções e os serviços de aprendizagem também deverão ser integrados em appliances electrónicas, máquinas e interfaces de informação.
A nível do mercado doméstico, a adopção da tecnologia está actualmente a evoluir de apenas um computador para vários computadores em rede; da RDIS para a banda larga; do computador para a convergência de vários sistemas (computador, consola de jogos, TV e sistemas áudio).
Aprendizagem através de simulações
Há vários anos que as simulações desempenham um papel significativo nas actividades de formação de determinados sectores de actividades, nomeadamente a defesa e a aviação. Actualmente, as simulações estão a ser adoptadas noutras indústrias e para o desenvolvimento de um leque mais alargado de competências. Entre os factores que têm impedido uma utilização mais alargada das simulações como ferramentas de aprendizagem, destacam-se as barreiras técnicas e os custos de desenvolvimento.
No passado, as simulações de boa qualidade eram simplesmente demasiado difíceis de desenvolver a custos aceitáveis. Por outro lado, a largura de banda limitava a sua distribuição. Actualmente, as tecnologias informáticas, como o Macromedia Flash, tornaram-se ubíquas. Por sua vez, os fornecedores de e-learning estão a desenvolver templates de simulação específicas para determinadas indústrias e para determinados tópicos.
As barreiras tecnológicas e de custo também estão a perder peso, aumentando assim o potencial de uma adopção mais alargada das tecnologias de simulação. Apesar desta evolução, ainda existem barreiras a ultrapassar, nomeadamente em termos de inovação na área do design, alcance explícito dos objectivos de aprendizagem, demonstração de que se conseguiram as alterações pretendidas de desempenho e de comportamento, fraca integração e implementação organizacional, ou evidência de uma exploração eficaz em ambientes de formação.
As simulações medidas pela computação deverão conquistar uma grande quota das actividades de formação e de educação, tanto em ambientes laborais, como a nível da educação. Na realidade, as simulações podem disponibilizar vantagens relativamente aos manuais ou aos guias de utilizador. Podem complementar aulas, demonstrações e oportunidades de prática real. Segundo alguns especialistas, as simulações criam um maior envolvimento dos estudantes e dos formandos, ajudando-os a reter e a aplicar o que aprenderam.
À medida que as tecnologias de simulação se tornam mais sofisticadas e mais acessíveis, o seu crescimento poderá ser superior ao de outras tecnologias de aprendizagem.
Sistemas de gestão de conteúdos e de aprendizagem
Entre os inquiridos pelo estudo encomendado pela Comissão Europeia, 44 por cento afirmaram que a estratégia dominante para a gestão da aprendizagem nas empresas em 2010 será a integração dos LCMS (Learning Content Management Systems) com outros sistemas empresariais, criando assim sinergias a nível da empresa. Uma percentagem menor (37 por cento) acredita que o outsourcing desta área (recorrendo a fornecedores de serviço completo, ou a redes de fornecedores complementares) será a estratégia escolhida pelas empresas.
Independentemente de optarem por uma estratégia interna ou externa, parece que os L(C)MS se irão integrar mais com outros sistemas nas organizações, sobretudo com outros sistemas relacionados com o capital humano. Também há quem anteveja que a evolução da formação e do desenvolvimento nos próximos anos irá depender de outros dois factores além do outsourcing. São eles a concorrência global e a introdução no mercado das chamadas soluções inteligentes (smart suites).
As soluções inteligentes são sistemas que integram a aprendizagem e a partilha de conhecimento com actividades de planeamento do negócio, a fim de tornar as operações mais inteligentes. Estas soluções deverão incluir os seguintes três elementos relevantes de aprendizagem:
Ferramentas de e-learning open source
O e-learning é entendido frequentemente (de forma errada, na nossa opinião) como um produto (conteúdo) disponibilizado através de um conjunto de meios tecnológicos (Internet, CD-ROM, etc.). No entanto, o estudo encomendado pela Comissão Europeia constatou que os fornecedores de tecnologias de e-learning são muito heterogéneos e com uma grande variedade de produtos: sistemas de gestão da aprendizagem (Learning Management Systems), sistemas de gestão de conteúdos (Content Management Systems), salas de aula virtuais (Virtual Classrooms), Authorware, ferramentas de avaliação e teste (Test & Assessment Tools), simuladores (Simulators), etc.
Estima-se que existam actualmente mais de 250 fornecedores de LMS comerciais. Por sua vez, o projecto JOIN identificou recentemente mais de 40 propostas de LMS open source. Alguns dos mais conhecidos são o Moodle, ILIAS, eduplone, Claroline and SAKAI. A maior parte dos mais conhecidos têm comunidades alargadas de desenvolvimento e são concorrentes dos produtos comerciais.
Uma investigação europeia chegou a uma conclusão interessante. Dos 10 critérios mais importantes para decidir a favor do software open source (excluindo as plataforma operacionais e as bases de dados) metade deles estão relacionados com a redução de custos, enquanto que outros quatro estão relacionados com critérios técnicos, como a protecção, estabilidade, desempenho e acesso ao código.
Standards
O estudo realizado para a Comissão Europeia indicou que os inquiridos acreditam que standards e especificações como o IEEE LOM, o SCORM e, mais recentemente as especificações IMS, como o IMS LD, IMS LIP e IMS QTI irão evoluir com sucesso até 2010 e tornar-se suficientemente flexíveis para permitirem, nessa altura, a integração de processos de aprendizagem em tempo real, simulações, jogos, aprendizagem adaptativa costumizada, gestão de direitos digitais.
De facto, é geralmente aceite que qualquer sistema, seja ele comercial ou open source, tem que ser construído com base em standards abertos. Só assim é que se conseguirá desenvolver o mercado do e-learning.
Baseado num artigo com o título "Future Trends in e-Learning Technologies", publicado em Abril deste ano pelo Directorate General for Education and Culture da Comissão Europeia.
Produzido em 2005