Os sistemas tradicionais de apuramento de custo apresentam-se actualmente com uma utilidade muito reduzida para os gestores. O seu contributo para o apoio à tomada de decisão é limitado, devido à distorção provocada pelos critérios de absorção dos custos das actividades de suporte (vulgarmente conhecidos como custos indirectos).
Tais modelos, levam a que a determinação do custo dos produtos/serviços seja muito dependente de critérios de repartição e imputação, conceptualmente lógicos, mas com falta de adequação às realidades empresariais. Como tal, deturpam sistematicamente essa realidade.
A tomada correcta de decisões tem que estar apoiada num correcto apuramento dos custos, e os modelos tradicionais da contabilidade não conseguem responder com eficácia e segurança a esse nível. Os sistemas tradicionais privilegiam sobretudo o reporting das consequências das decisões dos gestores - retrospectivos, quando as necessidades actuais apontam precisamente no sentido inverso.
Esta situação tradicional pode acarretar graves consequências para as empresas. Comparativamente, há quem considere que os prejuízos de não ter um qualquer sistema de apuramento de custos podem ser muito menores quando comparados com um sistema que provoque sistemáticas distorções, ou que ninguém o utilize. Desta forma o cenário só poderia apontar no sentido da mudança, já que as premissas actuais de negócio, não se coadunam com esta realidade adversa.
Cada vez mais, as empresas assumem uma orientação para o mercado, em vez de uma orientação para o produto. Tal facto leva a que o sistema de apuramento de custos tenha de passar de uma lógica de produto para uma lógica de mercado. As empresas operam actualmente num mercado cada vez mais aberto, em consequência do processo de globalização da economia, o que as leva a competir mundialmente. Interessa, pois, ao gestor avaliar as margens de contribuição face aos mercados em que opera.
Por outro lado, o cliente é cada vez mais exigente. Conquistar e fidelizar o cliente é um dos factores de sucesso das empresas, pelo que têm actualmente um grande impacto na sua forma de produção, organização e gestão. Orientar os sistemas de apuramento de custos para a avaliação das contribuições por cliente ou por segmento de mercado, constitui cada vez mais uma vocação que os sistemas tradicionais sistematicamente desprezam, pelo que as metodologias de apuramento exaustivo do custo dos produtos têm perdido relevância face a este novo condicionalismo do meio.
Até há algum tempo atrás, o preço de venda era fixado em função do preço de custo, acrescentando-lhe uma margem para cobertura dos custos comerciais e administrativos. Actualmente, é o mercado que dita a fixação dos preços. O mercado é de concorrência, pelo que a formação de preços do produto é feita através de mecanismos de mercado, baseados em factores como concorrência, oferta e procura.
A concorrência obriga à diversificação e personalização dos produtos, pelo que as empresas tiveram de passar da produção de gamas reduzidas para uma grande variedade de produtos fabricados em pequenas séries, com ciclos de vidas de produto cada vez mais reduzidos.
Inerente a isto, detectam-se muitas dificuldades na identificação de critérios objectivos e na imputação dos custos indirectos em função do consumo de recursos, de tal forma que é muito elevado o risco de falsear o verdadeiro custo do produto. Desta forma, a tomada de decisão do gestor pode levar à definição de estratégias que possam colocar em causa a competitividade e rendibilidade do seu negócio.
Os custos, como a mão de obra directa, têm perdido relevância como base de imputação dos custos indirectos, pelo que deverão identificar-se processos mais adequados com a nova realidade de formação de custos nas empresas. No que diz respeito às tecnologias de fabrico, o uso de meios de acompanhamento e de melhoria dos processos e da produtividade bastante eficazes, transferem para as actividades de suporte uma grande parte do esforço e dos recursos.
Se, por um lado, o desenvolvimento tecnológico pode facilitar a afectação dos custos de uma forma mais objectiva, por outro, ao provocar um agravamento sensível dos custos indirectos, aumenta o risco e a gravidade das distorções provocadas pelos critérios de imputação tradicionais.
Os sistemas de informação apresentam actualmente inúmeras diferenças em relação aos de alguns anos atrás. O recurso a bases de dados permite-nos potenciar a decomposição dos custos a níveis elementares e, acima de tudo, construir modelos de simulação de cenários alternativos e de apoio à tomada de decisão, flexíveis e de grande conexão com as diferentes realidades que se pretendem retratar.
Os modelos tradicionais de contabilidade analítica, apontando para uma certa estabilidade dos factores e estruturas produtivas, tendem a tornar-se inadequados, devido às fraquezas e distorções provocadas pela imputação de custos numa lógica de absorção. O apuramento dos custos deve, pois, assentar em modelos com uma capacidade de resposta que não é conseguida por modelos clássicos de contabilidade analítica.
Produzido em 2005