A coisa mais básica que qualquer cliente pergunta acerca de um projecto de software (ou de qualquer outro, mas os que eu conheço como fornecedor são os de software), é quanto custa e quanto demora a implementar. Mas porque razão estas perguntas são tão importantes? À primeira vista, poderá pensar-se que têm apenas a ver com o facto de se pretender saber se o custo está dentro do orçamento existente e se o software vai estar disponível na altura em que faz mais falta.
No entanto, estas duas necessidades são verdadeiramente importantes por um motivo muito simples: ninguém quer correr o risco de ter um projecto que ultrapasse o orçamento disponível ou que só esteja concluído quando já não faz falta. E aqui a ênfase coloca-se na parte "ninguém quer correr o risco de". Então é disso que estamos verdadeiramente a falar: realizar actividades para eliminar potenciais riscos, antes do acontecimento danoso ocorrer.
Esta é uma atitude que todos nós temos perante os mais simples problemas e que nos parece perfeitamente natural. Contudo, deixa transparecer a nossa predisposição para a gestão do risco.
Como acontece com todas as coisas que fazemos naturalmente e supostamente baseadas apenas no bom senso, podemos melhorar bastante a nossa forma de abordar os problemas através do emprego consistente de diversos métodos e técnicas. De igual forma, uma pessoa com clara apetência nata para a pintura pode melhorar claramente a sua arte através do estudo e emprego de métodos e técnicas específicas para a sua área.
Aplicação prática à Internet
É precisamente neste ponto que entroncam o desenvolvimento de sistemas de informação para a Internet (DSII) e os métodos de gestão de risco de software (GRS), pois existem já práticas no DSII referentes a cada um dos três aspectos da GRS (identificação e análise, mitigação e controlo, sistema de aviso atempado) que são utilizadas de forma consistente nos vários projectos.
Para além das questões comuns a qualquer projecto de software, o facto de se estar a desenvolver especificamente para a Internet coloca-nos uma ênfase concreta em determinados pontos de cada um dos três aspectos da GRS mencionados atrás.
Identificação e análise. A utilização de guias de boas práticas, principalmente no desenho de interfaces, ajuda-nos a identificar potenciais riscos ligados à utilização. Um utilizador na Internet não tem tanta facilidade em obter formação como os utilizadores de outros sistemas de informação. Esses guias ajudam-nos a identificar os riscos de insucesso na utilização e a analisar a melhor opção para a implementação.
Por outro lado, a infra-estrutura de comunicação é crítica neste tipo de sistemas. Assim, a determinação da sua disponibilidade, aquando da entrada do projecto em produção, é outra forma de identificação de riscos, sendo necessário analisar qual a melhor opção para a sua correcta implementação, estabelecendo as prioridades adequadas.
Mitigação e controlo. Para o risco de inadequação da interface, uma forma de mitigação é recorrer à realização de testes de usabilidade. Realizando estes testes com um conjunto de potenciais utilizadores, todos nas mesmas condições, poderemos ter resultados estatisticamente significativos, que nos permitam controlar a probabilidade de ocorrência de problemas no sistema real.
Para as questões específicas da conectividade, a sua mitigação passa por inventariar antecipadamente as alternativas disponíveis, bem como a realização de estudos e de testes de performance, submetendo o sistema a cargas semelhantes às possíveis de observar no futuro, quando já em produção.
Sistema de aviso atempado. Aqui, o planeamento da disponibilização na Internet é um excelente sistema de aviso atempado, pois permite conhecer antecipadamente todos os marcos relevantes do projecto, expondo assim os potenciais riscos e diminuindo consequentemente a magnitude do impacto da sua ocorrência.
Por outro lado, é sempre aconselhável (e perfeitamente viável nestes projectos) a disponibilização de sistemas de fácil retorno de informação. Desta forma será possível antecipadamente conhecer a opinião dos utilizadores, de forma a poder discutir essa informação em reuniões de projecto.
Afinal...
A gestão do risco dos projectos de software para a Internet até nem é "rocket science", mas é necessário fazer constantemente a sua aplicação. Seja apenas por bom senso, seja pela aplicação disciplinada e consistente de boas práticas de engenharia de software. A gestão do risco é algo que se faz e se deve fazer cada vez mais.
Produzido em 2005