Hoje em dia já existem poucas dúvidas de que o e-learning está a um passo de ser a próxima grande vaga de sucesso na Internet. A educação à distância poderá vir a ser encarada como uma das aplicações mais interessantes da interactividade e da riqueza da Internet para a publicação de conteúdos. Mas será que isso é realmente vantajoso para as organizações?
Podemos pensar que existe actualmente uma tendência geral para a valorização do capital intelectual, especialmente nas empresas. Vivemos num mundo cada vez mais competitivo, em que as empresas procuram cada vez mais potenciar o capital intelectual existente no seu espaço profissional. Por via dessa necessidade, procuram investir cada vez mais no desenvolvimento profissional dos seus colaboradores e o e-learning está a ser considerado como uma séria alternativa para esse desenvolvimento.
Existe hoje em dia, em muitas empresas, a necessidade de se encontrar um meio de distribuir rapidamente os conteúdos formativos (diversos e actuais). Para essas empresas, o e-learning surge como um processo de formar os seus colaboradores de forma rápida e eficaz. O e-learning pode apresentar-se como uma alternativa excelente se pensarmos em factores como a não obrigatoriedade de concentrar uma turma de colaboradores para um determinado evento formativo, ou que não será necessário pensar em viagens e hotéis.
Além disso, cada colaborador pode avançar no curso em função do seu próprio ritmo, sem depender de uma hora previamente marcada e podendo agendar uma sessão de conversa com o tutor ou outros colegas para esclarecer determinadas matérias que podem dizer respeito directamente à actividade profissional que desenvolve. Este processo de aprendizagem à distância poderá ainda ter a vantagem do participante se sentir menos intimidado, uma vez que é possível experimentar diversas possibilidades de resolução de uma situação sem demasiada exposição pessoal.
Podemos pensar em inúmeros factores vantajosos, mas também devemos estar precavidos para o facto de que estes factores, por si só, não são suficientes para o sucesso da organização. Para que um projecto de e-learning seja posto em prática, é necessário que haja um comprometimento claro por parte de todos os elementos da organização.
Implementar um sistema de e-learning significa atribuir novos perfis a vários elementos dentro da organização. Significa que se vai integrar uma nova ferramenta de disseminação (LMS - Learning Management System) com outras já existentes na empresa, o que irá implicar certamente um investimento inicial para entender e lidar com a nova realidade de aprendizagem.
Será necessário estabelecer responsabilidades ao nível de quem irá efectuar a gestão/administração das ferramentas de suporte. De igual modo, será necessário assegurar que os tutores percebem que a gestão da formação e o acompanhamento dos participantes é fundamental e que exige um grande esforço inicial.
Desta forma, podemos pensar que, através de um sistema de gestão de conteúdos, os colaboradores poderão aceder a um portal interno e/ou externo que disponibiliza cursos e permite a partilha de conteúdos. Um sistema desta natureza pode ser apelidado de "Universidade Corporativa" (universidade da empresa) e decorre da necessidade que as empresas têm de um ambiente de aprendizagem constante. Assim, apercebemo-nos facilmente da importância estratégica de um projecto de e-learning, em que as responsabilidades não são exclusivas do departamento de recursos humanos.
Neste contexto, será importante perceber que, para além das inúmeras vantagens que o e-learning apresenta, também envolve vários desafios que extravasam a componente tecnológica. De qualquer forma, as empresas que apostam no e-learning passam a contar com várias vantagens. Algumas já foram apontadas atrás; outras são referidas a seguir.
Maior troca/intercâmbio de conhecimento. As ferramentas utilizadas em e-learning proporcionam a troca de informação e de experiências entre os colaboradores de uma dada organização. Essa troca pode ser efectuada através de sessões de conversa, de fóruns de discussão, ou de mensagens de correio electrónico, permitindo gerar maior conhecimento sobre as matérias em questão.
Gestão da formação e das competências. Com programas de formação à distância, as organizações podem realizar facilmente o tratamento de dados relativamente ao desempenho dos seus colaboradores. Estes dados vão ser importantes para a definição de novas iniciativas formativas, dado que são detectadas as lacunas de formação de cada indivíduo. Existem outras ferramentas que, associadas à ferramenta de disseminação da formação, podem ajudar a gerir as competências, possibilitando assim a gestão proactiva dos recursos humanos.
Reciclagem dos conteúdos da formação. A formação à distância permite que o mesmo curso possa ser dirigido a diferentes tipos de colaboradores e a diferentes momentos de formação. Esses mesmos conteúdos também podem ser reavaliados e actualizados no futuro com relativa facilidade.
Normalização dos conteúdos. Com base nos referenciais existentes (em especial SCORM e AICC), as organizações podem uniformizar os conteúdos para a formação à distância e proceder à rentabilização desses mesmos conteúdos para outras plataformas que sejam compatíveis com as mesmas normas.
Peter Druker, no seu artigo "A Nova Sociedade das Organizações", chama a atenção para o facto de que a chave da sobrevivência das organizações na chamada economia do conhecimento passou a ser o elemento humano. Por outro lado, quanto mais uma empresa se torna uma organização de profissionais do conhecimento, mais os elementos dessa equipa passam a ser visados pelo mercado.
O salário, apesar de ser um aspecto importante, tem um peso que pode não ser definitivo para a permanência dos recursos humanos numa dada organização. Consequentemente, as organizações precisam de proporcionar aos seus profissionais oportunidades para colocarem em prática os seus conhecimentos.
* Paulo Silva é consultor na unidade estratégica de negócios de e-Learning da Sinfic.
Produzido em 2005