Alguns analistas afirmaram que o mundo nunca mais seria o mesmo depois do 11 de Setembro de 2001. Se considerarmos a história da biometria, o dia da queda das torres gémeas representa uma viragem. Além disso, abriram-se novas oportunidades de mercado.
Alguns dos pressupostos que existiam até então para "vender" as tecnologias de biometria tornaram-se obsoletos. Ao mesmo tempo, caíram várias das barreiras que existiam para uma implementação de soluções de biometria em larga escala. O medo da insegurança passou a sobrepor-se, em muitos casos, às questões da privacidade e da protecção dos dados individuais.
A necessidade de sistemas fiáveis de identificação e de autenticação passou a assumir maior ênfase depois do 11 de Setembro de 2001, impulsionando substancialmente o desenvolvimento das tecnologias e dos sistemas de biometria como garantes de níveis mais elevados de segurança. A biometria passou assim a ter um mercado considerável e a ser olhada mais como uma solução para os problemas da segurança do que um atentado potencial à privacidade dos indivíduos.
Mais importante ainda foi a adesão quase imediata dos governos e das grandes organizações às tecnologias biométricas, fomentando a sua credibilidade e impulsionando a sua generalização nos mais diversos sectores de actividade. No entanto, como acontece quase sempre, as novas oportunidades também vêm acompanhadas de novos desafios. E a biometria não é excepção.
Com muitos governos a voltarem-se para as tecnologias biométricas como garante da segurança em áreas críticas, os fornecedores de soluções viram-se obrigados a trabalhar com bastante maior afinco em questões como os standards, maiores níveis de exactidão da tecnologia, melhores desempenhos e maior transparência para o público em geral. A "indústria" da biometria como que teve que passar da fase de protótipo para a fase de implementação em larga escala em pouco tempo.
Talvez este seja um dos principais aspectos - aliado à recessão económica generalizada - para explicar o facto do mercado da biometria não ter crescido tanto como seria de esperar nos dois anos imediatamente a seguir ao 11 se Setembro de 2001 (2002 e 2003). No entanto, como poderá ver no artigo "Mercado da Biometria em Crescimento Acentuado", as projecções do International Biometric Group prevêem um crescimento deste sector bastante significativo e constante até 2008, ano em que deverá representar 4,6 mil milhões de dólares.
Recorde-se que, ainda segundo o IBG, o mercado da biometria só representou 719 milhões de dólares em 2003. Isto quer dizer que no espaço de cinco anos (2003 a 2008), o mercado da biometria deverá aumentar mais de seis vezes o seu peso em termos de volume de negócios.
Mudança de orientação
Ainda segundo o IBG, a área de maior crescimento da biometria será o sector público (com tecnologias de autenticação para controlo de acessos e de identidade). As aplicações relacionadas com a segurança da informação (comércio electrónico, autenticação em PCs e redes, ou autenticação em espaços comerciais e caixas Multibanco) também terão uma boa fatia de mercado, embora inferior à governamental. Na realidade, o grande impacto dos acontecimentos de 11 de Setembro reside nas aplicações de carácter governamental.
Até ao 11 de Setembro de 2001 existiam sérias objecções à utilização generalizada da biometria em muitas aplicações governamentais - por exemplo, passaportes, vistos, bilhetes de identidade, etc. A partir desse marco histórico e da "cruzada" internacional dos Estados Unidos contra o terrorismo, os argumentos dos defensores das liberdades individuais perderam muito do peso que tinham até então, sucumbindo ao medo dos atentados e deixando muito mais margem de manobra aos legisladores para proporem os sistemas biométricos como solução.
As justificações para a adesão às tecnologias biométricas também mudaram depois do 11 de Setembro. Historicamente, o marketing da biometria utilizava sobretudo a conveniência e a segurança como argumentos de venda. Conveniência, na medida em que evita a gestão de palavras de passe, a memorização de senhas e/ou de códigos (passamos a ser nós próprios os elementos de identificação). Segurança, na medida em que dificulta a fraude graças à utilização de características individuais intransmissíveis (embora imitáveis em determinados casos). Com o 11 de Setembro, a segurança passou a ser claramente o argumento número um, número dois e número três.
Maior consciência das limitações
Com a generalização das soluções de biometria, o 11 de Setembro também teve como impacto a difusão de muito mais informação sobre os aspectos positivos e negativos das tecnologias biométricas. A compreensão destas soluções é agora muito maior do que antes da queda das torres gémeas, sobressaindo com maior clareza as vantagens e as limitações.
Por exemplo, actualmente está bastante divulgada a ideia de que os sistemas biométricos são particularmente susceptíveis a erros do tipo falsas rejeições ou falsas não conformidades com os registos armazenados (ver artigo "Vantagens e Desvantagens da Biometria"). Por outro lado, são difíceis de utilizar em determinados casos e ainda existe muito trabalho a fazer em termos de standards e de desempenho.
Também será necessário considerar os sistemas biométricos, não como a solução para todos os males, mas como uma peça de uma solução mais abrangente. É sabido que estes sistemas se limitam a confirmar ou a determinar se alguém corresponde à identidade que foi previamente armazenada - independentemente desta última ser verdadeira ou falsa. A verdadeira identidade de uma pessoa pode assim passar-lhe completamente ao lado.
A conjugação de várias características (biométricas ou não) é outra das necessidades óbvias. Um sistema que se baseie apenas nas impressões digitais do indicador direito não conseguirá identificar a pessoa após a perda de parte ou da totalidade desse dedo (por acidente, por exemplo). O mesmo se passa com o reconhecimento facial ou com a leitura dos olhos. Apesar das características físicas normalmente utilizadas serem constantes ao longo da vida de uma pessoa em condições normais, as alterações e os acidentes acontecem com alguma frequência.
Se as pessoas passarem pelos sistemas de identificação com grande regularidade temporal, as falsas rejeições costumam ser reduzidas. Pelo contrário, se a identificação só for efectuada de tempos a tempos (com grandes intervalos de tempo pelo meio), as rejeições dos sistemas aumentam de forma considerável, dado que algumas das características individuais utilizadas podem ter-se alterado (ainda que ligeiramente).
Seja como for, no que se refere à segurança, os sistemas biométricos são certamente mais seguros do que as soluções utilizadas até agora. Relativamente à facilidade e comodidade de utilização, os sistemas mais utilizados também apresentam vantagens claras relativamente às tradicionais palavras de passe, códigos, etc.
Produzido em 2005