O Gabinete de Educação Médica (GEM) da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) da Universidade da Beira Interior (UBI) é responsável pela coordenação de todas as actividades pedagógicas da FCS - desde a avaliação, à disponibilização dos conteúdos na intranet. Os conteúdos são preparados pelos professores, enviados para o GEM (onde são filtrados) e só depois colocados na intranet. Ao longo deste processos existe uma avaliação qualitativa e pedagógica, garantindo que os conteúdos estão de acordo com o modelo de ensino preconizado pela FCS.
A planificação e organização das actividades de aprendizagem, bem como os conteúdos, são concebidos e disponibilizados de forma a garantir a conformidade com a metodologia pedagógica que é seguida. A própria avaliação também é supervisionada pelo GEM, de modo a ir de encontro aos objectivos de aprendizagem. Como os alunos fazem uma aprendizagem por objectivos, são definidos os objectivos a atingir.
Esta supervisão do GEM é efectuada de forma a garantir os padrões de qualidade preconizados para todo o processo de ensino e a elevar esses padrões ao longo do tempo. Por exemplo, no caso da avaliação, a supervisão é efectuada a montante e a jusante. A montante, verifica-se se as questões estão bem formuladas (em termos de percepção, linguagem, clareza, etc.). A jusante, existe a análise das respostas que os alunos deram às questões colocadas na avaliação.
Desta forma, chega-se a conclusões para a melhoria da qualidade das avaliações posteriores, uma vez que são analisados os índices de discriminação e de dificuldade de cada pergunta. As perguntas que não cumprirem os índices definidos são retiradas das avaliações (reformuladas, ou abandonadas). Isto é válido sobretudo para as avaliações de conhecimentos. No entanto, como em qualquer curso de medicina, também existem outros tipos de avaliações (técnicas, de actividades, da capacidade de fazer?).
Na licenciatura de medicina, as avaliações de conhecimentos são realizadas sobretudo com base em questões de resposta múltipla. Para uma maior adaptação à vertente clínica, também estão a ser utilizados casos clínicos para avaliar a capacidade de decisão dos alunos (utilizando árvores de decisão). Estas avaliações são efectuadas com base no software Questionmark, fornecido pela Sinfic.
Os alunos também intervêm no processo de melhoria contínua da vertente pedagógica. Como têm acesso às notas através da plataforma de e-Learning, ficando a saber exactamente o que fizeram bem e o que fizeram mal, podem concordar ou discordar da classificação e expor o seu ponto de vista. Esta interacção facilitada entre alunos e docentes permite refinar a qualidade da avaliação ao longo do tempo. Como referiu Isabel Neto, coordenadora do Gabinete de Educação Médica da FCS da UBI, trata-se de um processo de aprendizagem para todas as partes (docentes, alunos e responsáveis pedagógicos).
A importância da supervisão pedagógica
A componente pedagógica não costuma ser um dos pontos fortes das licenciaturas em medicina, que costumam privilegiar as competências técnicas e científicas. Por outro lado, os professores/tutores da FCS da UBI são médicos que trabalham nos hospitais e centros de saúde da região (Beira Alta e Beira Baixa). A docência acaba assim por ser uma sobrecarga laboral que não deixa muito espaço a preocupações de natureza pedagógica. Convém ainda sublinhar que a preparação de conteúdos para ambientes de e-Learning é mais exigente, quanto ao tempo e trabalho necessários, do que no sistema de ensino tradicional.
Estas são algumas das razões que justificam a existência de intermediários entre os docentes e os alunos, a fim de garantir níveis padronizados de qualidade em todas as vertentes do ensino da medicina na FCS. Esta actividade envolve o controlo dos conteúdo a montante (antes de serem disponibilizados no sistema de aprendizagem), a sua preparação para serem colocados na plataforma de e-Learning e o acompanhamento das actividades de aprendizagem para recolher feedbacks que permitam a introdução de melhorias futura.
Isabel Neto é de opinião que esta forma de ensino tem sido importante para os docentes e para os alunos. Sublinhou que "não é fácil mudar de um sistema de ensino tradicional (em que todos fomos educados) para outro completamente novo, em que o papel do professor não é o de dar aulas, mas antes ser facilitador da aprendizagem". De facto, na FCS prefere-se falar de aprendizagem e não de ensino. Isto quer dizer que os docentes também são envolvidos num processo de aprendizagem.
Evidentemente, as dificuldades são de ambas as partes (docentes e alunos). Os docentes têm que se adaptar a conteúdos normalmente mais dinâmicos do que no ensino tradicional. Por exemplo, a ideia do professor que prepara os conteúdos num ano lectivo e os utiliza inalterados nos anos seguintes não faz qualquer sentido num tipo de ensino baseado em e-Learning. Como os alunos são incentivados a pesquisar a informação relevante a nível nacional e internacional, acabam por ser eles próprios os impulsionadores de uma necessidade constante de actualização por parte dos professores.
Da parte dos alunos, mesmo no ensino tradicional, já sentem algum "choque" na passagem do secundário para o ensino superior (uma vez que é necessário maior índice de auto-aprendizagem e de auto-procura de informação). Quando a aprendizagem passa a ser inteiramente baseada em novas tecnologias da informação, as dificuldades de adaptação (mais ao modelo de aprendizagem, do que ao sistema informático) fazem-se sentir ainda com maior incidência.
Contudo, toda a gente parece estar de acordo numa coisa: o modelo de ensino baseado em e-Learning prepara melhor os alunos para responderem às suas necessidades profissionais futuras, uma vez que vivemos num mundo em rápida mudança e evolução acelerada, onde a actualização permanente é uma necessidade e não uma opção.
Para melhorar o acompanhamento dos alunos pelos professores/tutores, a aprendizagem é efectuada com base em pequenos grupos, com menos de 15 alunos. Nos anos mais teóricos (até meados do terceiro ano da licenciatura) a interacção entre os alunos e os tutores é possível de forma directa ou indirecta, recorrendo às ferramentas informáticas. Na componente mais prática do curso (após meados do terceiro ano), os alunos e os tutores estão em contacto pessoal quase permanente, uma vez que trabalham e estudam no mesmo ambiente físico (hospital ou centro de saúde).
Aprendizagem remota para discentes e docentes
O ensino baseado em e-Learning permite ainda o recurso à videoconferência e a outros meios não presenciais para introduzir no sistema normal de aprendizagem especialistas nacionais e internacionais de renome, conferências, seminários, etc. Como os alunos mais avançados (e os docentes) se encontram dispersos pelos vários hospitais da região, o modelo de ensino vigente facilita e potencia a aquisição de conhecimentos através destas formas de comunicação não presenciais.
Uma outra vantagem do paradigma de ensino praticado pela FCS reside no facto de privilegiar a aprendizagem de todos os intervenientes, uma vez que também abarca o sistema de saúde da região, e não apenas os alunos de medicina da UBI. Os profissionais de saúde envolvidos nesta aprendizagem acabam por ser incentivados a actualizarem-se e dispõem dos meios para isso, dado que a universidade se "estende" literalmente a vários hospitais e centros de saúde.
Para esbater ainda mais as distâncias e fomentar o diálogo (sobretudo entre o pessoal docente, uma vez que podem residir na Guarda, Covilhã, Fundão, Castelo Branco?), a FCS pretende recorrer à sua intranet (que chega a esses locais) com meios audiovisuais para promover fóruns de discussão entre os profissionais de saúde da região.