A Universidade da Beira Interior (UBI), através da sua Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), implementou em Portugal um método completamente novo de ensinar ciências médicas. Desde o primeiro ao último ano da licenciatura em medicina, os alunos recorrem massivamente às tecnologias da informação e ao e-Learning. A forma de ensino tradicional foi abandonada e a universidade tornou-se um caso de estudo mundial, tanto em termos do ensino propriamente dito, como da avaliação. Além disso (o que é talvez ainda mais importante), introduziu uma nova dinâmica no sistema de saúde da região da Beira Alta e Beira Baixa.
A FCS da UBI foi criada em 1998 por resolução de Conselho de Ministros (n.º 140/98), que previa, entre outras coisas, a licenciatura em medicina e o "desenvolvimento de modelos inovadores de formação?". Ao mesmo tempo que era reconhecida a necessidade de aumentar o ensino da medicina, também se impunham modelos de ensino inovadores e diferentes dos tradicionais.
A Universidade da Beira Interior realizou então um levantamento das novas formas de ensinar medicina na Europa e nos Estados Unidos. Dada a grande predominância do recurso às tecnologias da informação, optou-se por uma estrutura de curso baseada em e-learning. Os alunos fazem a sua própria auto-aprendizagem e trabalham em pequenos grupos.
Em vez dos tradicionais professores, os alunos têm tutores (ou facilitadores da aprendizagem) que preparam conteúdos, orientam os alunos no caminho da auto-aprendizagem e trabalham em pequenos grupos. Na licenciatura de medicina da FCS não existem as chamadas aulas tradicionais, com o professor a ensinar o os alunos a ouvirem.
O modelo de ensino adoptado é único em Portugal, embora existam outros casos que têm vindo a aderir (em maior ou menor grau, mas sempre parcialmente) às tecnologias da informação para o ensino. Relativamente ao sistema de avaliação, não há muitos casos em todo o mundo que utilizem as potencialidades de um sistema de avaliação de forma tão exaustiva como a FCS.
O modelo de ensino baseia-se inteiramente em meios informáticos. Os tutores compilam conteúdos e sugerem bibliografias e outros tipos de informação que são disponibilizados numa intranet da FCS. Os alunos vão depois navegar nessa intranet e/ou na Internet para acederem à informação, cabendo-lhes a eles transformar esta última em conhecimento. Evidentemente, podem contar com a orientação dos tutores. A própria avaliação é efectuada com o recurso a ferramentas informáticas.
A partir de meados do terceiro ano, os alunos são colocados a tempo inteiro numa rede de quatro hospitais e cinco centros de saúde, onde vão continuar a sua aprendizagem. Nesta segunda etapa da licenciatura, os alunos só vão à FCS para efectuarem as avaliações, pelo que se tornou necessário estender os meios informáticos (computadores, intranet e Internet) a essas instalações.
A grande vantagem deste modelo de ensino é mais abrangente do que possamos imaginar à primeira vista. Por um lado, os alunos têm garantida a sua formação normal em medicina, com base em métodos de ensino baseados nas novas tecnologias da informação. Por outro lado, os tutores (em grande parte, especialistas do sistema de saúde da região) são colocados numa espiral de aprendizagem e de actualização permanente, graças ao trabalho directo com os alunos e à disponibilização (pela FCS) de ferramentas e de conteúdos de topo nacionais e internacionais.
A interdisciplinaridade também sai a ganhar neste modelo de ensino, dada a facilidade de acesso à informação e o incentivo à partilha. No entanto, a maior vantagem deste modelo de ensino reside provavelmente na preparação e habituação dos futuros médicos para procurarem a informação de que precisam onde quer que ela se encontre. A aprendizagem contínua é actualmente uma necessidade em qualquer profissão, mas na área médica assume ainda maior relevância.
Os conteúdos interactivos são disponibilizados num LMS (Learning Management System) e as avaliações são efectuadas com base no software da Questionmark, fornecido pela Sinfic. Além dos conteúdos disponibilizados na intranet da FCS, os alunos e o pessoal docente (tutores) também têm acesso a informação externa, nomeadamente a um grande conjunto de revistas científicas das diferentes especialidades. O acesso a estes artigos é em modo completo e não apenas a resumos.
Na opinião de João Queiroz, presidente da FCS da UBI, a habituação dos alunos a este método de ensino tem sido "muito boa". As reacções mais reticentes têm sido oriundas de alguns tutores que não estão tão habituados às novas tecnologias. Foi-nos referido ainda que os alunos demoram apenas cerca de uma a duas semanas para começarem a utilizar em pleno e sem problemas o sistema.
De forma a assegurar toda a componente clínica do ensino, foram assinados, em Fevereiro de 2001, os protocolos de articulação entre a Universidade da Beira Interior/Faculdade de Ciências da Saúde e as instituições de saúde envolvidas no projecto da licenciatura: Centro Hospitalar da Cova da Beira (Covilhã e Fundão), Hospital Amato Lusitano (Castelo Branco), Hospital Sousa Martins (Guarda) e Subregiões da Guarda e Castelo Branco da Administração Regional de Saúde da Zona Centro (representando os Centros de Saúde dos dois Distritos).