O CITRI (Centro Integrado de Tratamento de Resíduos Industriais) é uma empresa privada do grupo Sapec ligada à gestão de resíduos industriais. O caso exposto nesta entrevista refere-se ao desenvolvimento de um sistema de gestão desenvolvido para responder às necessidades deste tipo de negócio muito diferente dos negócios tradicionais. O pioneirismo nesta área transformou o CITRI num caso de estudo ibérico e mesmo europeu, além de lhe ter proporcionado elevados níveis de produtividade.
O Contexto
O grupo Sapec nasceu sob a forma de empresa familiar em 1926. Em Portugal, iniciou a sua actividade com a exploração das minas de pirite do Alentejo. Progressivamente, foi-se integrando verticalmente na produção e comercialização duma vasta gama de factores de produção para a agricultura. No nosso país, em 1985, a empresa abandonou as actividades mineiras e apareceram as actividades de importação e distribuição de matérias-primas agro-alimentares.
A partir de 1988, a Sapec sofreu uma reestruturação profunda, adoptando a forma de holding de investimentos, presente em diferentes ramos de actividade com sinergias e complementaridades entre si. O desenvolvimento das actividades portuárias, de entrepostos e logística; o sector das energias renováveis que se desenvolveu fortemente depois de 2002; o sector dos fitonutrientes para as plantas em 2001 e a actividade de tratamento de resíduos industriais em 2003, complementam o percurso histórico do grupo em Portugal.
O CITRI está integrado na Sapec Química, uma empresa do Grupo Sapec que, além de desenvolver em Portugal as actividades de fabricação e distribuição de produtos químicos para a indústria, também tem um pólo de actividades ligadas ao ambiente (resíduos industriais). O pólo dos resíduos industriais está baseado na empresa CITRI, localizada em Setúbal.
As instalações do CITRI são constituídas essencialmente por um aterro controlado (com duas células onde são depositados os resíduos que não podem ser reutilizados ou reciclados), um laboratório para análise de águas e resíduos, uma unidade de osmose inversa para tratamento dos lixiviados. O CITRI possui ainda uma plataforma de triagem onde são separados os resíduos reutilizáveis ou recicláveis, que geralmente não são segregados pelo produtor. Os resíduos triados são posteriormente enviados para destinos de recuperação autorizados.
O CITRI teve início num projecto que nasceu em 2000, foi licenciado em 2001 e arrancou a actividade em 2002. Actualmente, de acordo com as palavras de Mário Santos, director geral do CITRI, dedica-se à recepção de resíduos não perigosos de origem industrial. Os resíduos de que falamos aqui são essencialmente lamas de processo, embalagens, produtos avariados (fora de prazo e/ou de especificação). Também há que referir que o CITRI só recebe resíduos industriais e não domésticos.
A Necessidade
O negócio do processamento de resíduos é uma actividade complexa e cara. Para ficarmos com uma ideia dos custos, Mário Santos afirmou que o CITRI já investiu na sua unidade de recepção de resíduos cerca de 12 a 13 milhões de euros. Paraalém dos custos normais de operação, existem também custos de controlo durante a actividade e depois da actividade.
Uma empresa como o CITRI está obrigada a fazer análises diárias às águas que saem dos aterros e existem furos em volta dos aterros para a recolha de amostras destinadas a análises laboratoriais. Para além disso, se o CITRI fechar as suas portas nas instalações actuais - porque esgotou a capacidade dos aterros, por exemplo - fica responsável pelo local nos 30 (trinta) anos a seguir ao encerramento, mantendo a monitorização dos indicadores ambientais exigidos por lei.
No que se refere à complexidade, advém essencialmente do facto de se tratar de um negócio um pouco ao contrário do tradicional. Por exemplo, em qualquer negócio, os fornecedores de matéria prima são credores. No caso da gestão dos resíduos, os fornecedores pagam para se livrarem dos resíduos. Paralelamente, quando o CITRI encaminha resíduos recicláveis para outras indústrias, pode ter que pagar para a recepção dos mesmos.
Isto quer dizer que a empresa CITRI recebe dinheiro de quem lhe fornece a matéria prima da sua actividade (resíduos industriais) e paga (eventualmente) a quem lhe fica com os produtos recicláveis depois de devidamente triados.
Face ao que foi exposto atrás, o CITRI deparou-se com dois tipos de necessidades imediatamente óbvias e interrelacionadas antes de iniciar a sua actividade. Em primeiro lugar, precisava de atingir níveis de rentabilidade bastante elevados - para suportar os altos custos desta actividade e para fazer face à concorrência dos aterros públicos.
Em segundo lugar, precisava de um sistema de gestão (do tipo ERP - Enterprise Resource Planning) que lhe permitisse gerir o negócio (atípico, como referimos atrás) desde o pedido do fornecedor de resíduos, até à notificação das autoridades públicas sobre os resíduos recebidos e reencaminhados (um processo bastante burocrático), passando ainda pela gestão da actividade corrente da própria empresa.
A Solução
Quando surgiu o projecto CITRI, procurou-se recorrer a uma solução espanhola de uma associada do grupo Sapec. No entanto, o director geral da empresa (Mário Santos) rapidamente se apercebeu da incapacidade da mesma para gerir o negócio. Um dos problemas rapidamente notado foi a falta de integração entre a base de dados e a contabilidade, por exemplo. Além disso, não respondia a várias das especificidades do negócio.
Depois de ponderadas as várias hipóteses consideradas, optou-se por uma solução baseada no ERP da Sinfic (designado por S4). Alguns módulos já existentes foram adaptados às particularidades do negócio da gestão de resíduos; outros foram criados de novo para responder a necessidades específicas. A actividade do CITRI foi iniciada já com esta solução integrada, a qual também foi sendo melhorado ao longo do tempo.
A opção pela Sinfic ficou a dever-se muito ao conhecimento das potencialidades do S4 que já existia dentro do grupo Sapec. A partir daqui, foi lançado o desafio à Sinfic para construir uma solução adaptada às necessidades da gestão de resíduos. Maria da Luz Galamba, consultora externa do CITRI, sublinhou ainda a confiança que existia na equipa da Sinfic que tem trabalhado no desenvolvimento do S4.
Outro dos aspectos decisivos para a escolha do S4 e da Sinfic foi a capacidade e disponibilidade de adaptação de um ERP nacional a uma área de negócio bastante específica, algo que dificilmente seria conseguido com soluções análogas de carácter internacional, ou com equipas técnicas menos experientes e menos flexíveis de outras software-houses portuguesas.
De uma forma sintética, aliou-se a visão e conhecimento do ramo por parte dos responsáveis e consultores do CITRI (que definiram os requisitos) às capacidades de desenvolvimento da unidade de negócio de Sistemas & Aplicações da Sinfic (que "recriou" o S4 com uma orientação específica para a gestão de resíduos). Actualmente, o S4 implementado no CITRI é um sistema de informação global, estável, integrado e orientado para a gestão de resíduos, integrando mesmo a gestão de informação da vertente laboratorial.
Maria da Luz Galamba foi ainda mais longe, ao afirmar que se trata de uma solução única e pioneira na Península Ibérica, que automatiza todo o ciclo do negócio da gestão de resíduos. A facilidade de utilização foi outro requisito básico, pelo que actualmente são os próprios empregados da portaria do aterro (tipicamente não familiarizados com os meios informáticos) que controlam as recepções de resíduos com base em informação do sistema (autorizações, contas correntes, etc.).
Os próprios clientes (fornecedores de resíduos) do CITRI e os auditores da empresa têm elogiado o sistema de informação S4 implementado, segundo Maria da Luz Galamba. Mais do que a empresa adaptar o seu funcionamento a uma determinada solução de software, empenhou-se na construção (recorrendo à Sinfic) de uma solução adaptada ao seu negócio.
O grande benefício para o CTRI traduziu-se em ganhos significativos de produtividade. A empresa, desde o seu arranque até agora multiplicou por seis a sua capacidade de recepção de resíduos. No entanto, o número de pessoas que trabalham na empresa manteve-se praticamente igual. Como se trata de uma actividade com uma grande carga de burocracia (papeis a circular entre os vários intervenientes), a automatização dos circuitos informacionais permite enormes ganhos de produtividade. Além disso, o CITRI tem investido muito na formação contínua dos seus recursos humanos.